|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Estudo tenta provar relação entre alimento e volta de câncer de mama
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma alimentação equilibrada,
que resulte na manutenção do peso adequado, pode dar uma sobrevida maior e uma melhor qualidade de vida às mulheres que já
tiveram câncer de mama.
O que não se sabe ainda, com
precisão, é quanto uma alimentação saudável interfere numa recidiva -reaparecimento da doença-, especialmente nas mulheres
na menopausa e pós-menopausa.
"Dois grandes estudos norte-americanos, envolvendo mais de
5.000 mulheres, vêm sendo realizados para avaliar essa relação",
diz o mastologista Silvio Bromberg, do Hospital Israelita Albert
Einstein, de São Paulo.
A relação entre melhor alimentação e saúde já é defendida por
todos os especialistas. A professora Jocelem Mastrodi Salgado, titular de nutrição humana da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz, de Piracicaba), estuda a relação alimento e
saúde há cerca de 20 anos.
Em pelo menos dois dos seus
quatro livros, e em muitas de suas
conferências, ela defende que
bons hábitos alimentares poderiam evitar mais da metade dos
casos de câncer, além de grande
parte das doenças crônicas.
Um estudo do qual participou a
professora Angela Maggio, no
Hospital das Clínicas de São Paulo, mostrou que um isolado protéico de soja, em forma de alimento, reduz os efeitos da menopausa. Mas ainda não há estudos
mostrando a influência da soja na
prevenção e na recidiva do câncer
de mama, ao menos no HC.
"O que se sabe é que mulheres
obesas, que já tiveram câncer de
mama, têm menor sobrevida e
pior qualidade de vida", diz o médico Silvio Bromberg.
Abaixo, trechos da entrevista
que concedeu à Folha:
Folha - Qual a diferença entre os
dois estudos norte-americanos?
Silvio Bromberg - O primeiro deles, o Wins (The Women's Intervention Nutrition Study), irá
acompanhar 2.500 mulheres na
pós-menopausa que já tiveram e
trataram o câncer de mama há
cerca de um ano. Elas serão acompanhadas por um período de seis
anos, mas alguns resultados serão
antecipados no ano vem. As mulheres serão divididas aleatoriamente em dois grupos, que, em
comum, terão uma alimentação
pobre em gordura animal. Os dados serão posteriormente comparados com os de mulheres na
mesma situação com hábitos alimentares de diversos países. A
cultura de células permitirá identificar possíveis fatores alimentares envolvidos na progressão desse tipo de câncer, o de mama.
Folha - E o segundo estudo?
Bromberg - Chama-se Whel
(Women's Healthy Eating and Living) e envolverá 3.109 mulheres
na pré e na pós-menopausa que
foram diagnosticadas e tratadas
nos últimos anos. Serão igualmente divididas em dois grupos,
mas o grupo de estudo deverá ingerir diariamente duas vezes mais
frutas e vegetais do que consumia
regularmente. O outro grupo, por
sua vez, continuará se alimentando normalmente. A intenção,
nessa pesquisa, é analisar a correlação das substâncias presentes
nos vegetais e nas frutas com a capacidade de influir na recidiva e
na sobrevida da paciente.
Folha - O que se sabe sobre a relação entre alimento e o desenvolvimento de doença crônica e câncer?
Bromberg - Há muitos estudos
já fechados, outros observacionais, que acompanharam populações por seis ou mais anos. Há um
consenso de que substâncias antioxidantes -presentes nas frutas, legumes e verduras- provocam menor danos às células. Já a
gordura animal causaria efeito
contrário. Mas as metodologias
são variadas e subjetivas. Cientificamente, as controvérsias ainda
persistem. Por exemplo, em relação à soja: é possível medir quanto uma pessoa está ingerindo,
mas não se sabe quanto o organismo está aproveitando.
Folha - Que tipo de alimentação o
senhor sugeriria a uma mulher que
já tivesse tido câncer de mama?
Bromberg - A mesma que sugiro
a qualquer pessoa, que adote uma
alimentação equilibrada. Quem
passa por um câncer pode ter sua
auto-estima reduzida, tendendo a
comer mais e a ficar obesa.
Informações sobre nutrição:
jmsalgad@esalq.usp.br
Texto Anterior: Genética: Curso mostra conquistas e aplicações Próximo Texto: Perigo na natureza: Planta venenosa intoxica mais crianças Índice
|