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PERIGO NA NATUREZA
No país, são cerca de 2.000 pacientes por ano; Fiocruz divulgou lista de 16 espécies que mais ameaçam
Planta venenosa intoxica mais crianças
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas estão por toda a parte. No
interior das casas, nos jardins, nos
playgrounds, nas praças e parques públicos e nos canteiros de
ruas e avenidas. São as plantas venenosas, que, por ano, intoxicam
em média 2.000 pessoas no país,
60% crianças com menos de nove
anos, segundo dados do Sinitox
(Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), ligado à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro.
Para alertar a população sobre o
perigo representado por essas
plantas, a fundação lançou uma
campanha educativa, em parceria
com os centros de controle de toxicologia de São Paulo, Belém,
Salvador, Cuiabá, Campinas, São
Paulo e Porto Alegre.
De acordo com Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, o
primeiro trabalho do programa
foi a divulgação, por meio de folhetos, de cartazes e da internet,
das 16 plantas que mais causam
intoxicação no país. Também está
sendo elaborado um manual de
tratamento dos envenenamentos.
A idéia é distribuir o material nas
escolas e locais de grande concentração pública.
A folhagem comigo-ninguém-pode, cultivada no interior das casas por, supostamente, combater
o mau-olhado, é a campeã das intoxicações. A ingestão da planta
pode causar queimação, inchaço
de lábios, boca e língua, náuseas,
vômitos, diarréia, dificuldade de
engolir e asfixia.
Em geral, de acordo com a farmacêutica Sônia Aparecida Dantas Barcia, do Centro de Controle
de Intoxicações de São Paulo, que
funciona no Hospital Municipal
Dr. Artur Ribeiro de Saboya, as
crianças se intoxicam com as
plantas em três situações: por curiosidade, fome ou apostas entre
amigos.
O time dos pequenos de um a
quatro anos é responsável por
40% das ocorrências no centro.
Os acidentes geralmente acontecem em casa, em algum momento
de distração dos pais. "É uma fase
de exploração, e elas levam à boca
tudo o que vêem pela frente. Deixar o carrinho do bebê perto da
planta é um grande risco", diz ela.
Dos quatro aos nove anos, as intoxicações ocorrem durante brincadeiras infantis. "As crianças, em
geral meninos, fazem apostas e,
quem perde, tem que comer planta", afirma a farmacêutica.
Um dos casos mais graves atendidos pelo centro, envolvendo
crianças, foi há dois anos, quando
três irmãos deram entrada no
pronto-socorro com vômito e
diarréia ininterruptas. Aproveitando um congestionamento na
rodovia dos Imigrantes, elas deixaram o carro dos pais e comeram alguns frutos de uma árvore
próxima à rodovia.
Eram pinhões roxos ou paraguaios, frutos cujas sementes e o
óleo são extremamente tóxicos e
causam grave inflamação do trato
gastrointestinal. As crianças se recuperaram após uma lavagem
gástrica e hidratação com soro.
"Se não fossem socorridos a tempo, eles poderiam ter morrido em
razão da desidratação."
O estudante Denilson de Castro,
10, passou por esse susto há quatro anos, quando ainda estava na
pré-escola. Durante passeio da
classe em um parque da cidade,
ele levou à boca o fruto, que imediatamente lhe causou náuseas.
O menino foi levado ao Hospital
das Clínicas e, a exemplo dos três
irmãos, passou por lavagem estomacal e tomou soro. "O que mais
me irritou foi que o monitor viu
isso, mas achou que o fruto era
comestível", afirma a mãe, Joana.
Para evitar acidentes desse tipo,
a coordenadora do Sinitox defende que o poder público coloque
placas nessas plantas com o alerta
sobre a toxicidade, especialmente
nos locais com grande circulação
de crianças.
Bochner diz que não é objetivo
da campanha eliminar as plantas
tóxicas. "É perfeitamente possível
conviver em harmonia com elas.
Basta respeitá-las", afirma.
Além de ensinar as crianças a
não colocar plantas na boca, ela
afirma que os pais devem conhecer bem as folhagens e flores existentes em casa e nos arredores.
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