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Exército brasileiro também foi acusado de abuso no Haiti
Casos envolvendo missão de paz não tiveram a dimensão da morte de três jovens no Rio, mas revelam problemas nas tropas
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Episódios de abuso de poder,
despreparo ou equívoco técnico das tropas do Exército Brasileiro não surpreendem oficiais
das Forças Armadas que atuaram na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), no país desde junho de 2004.
Embora nenhum incidente
conhecido tenha tido a repercussão do que resultou no assassinato dos três moradores
da Providência -e abriu crise
no Exército e debate sobre seu
emprego atuando na Segurança
Pública após oficiais terem entregue os jovens a líderes do
tráfico no morro da Mineira,
controlada por uma facção rival
da que controla o morro da
Providência-, fatos contados à
Folha por oficiais que estiveram no país revelam problemas
nas tropas.
Entre os fatos citados, há o
assassinato de um civil por um
cabo do Exército, após suposto
desacato de autoridade, apurado pela ONU; a investigação de
acusação de estupro de adolescente por militar brasileiro; e
vídeos mostrando militares atirando sem alvo, por cima de posições onde estavam tropas nacionais apenas para se exibir
para câmeras, ou atirando a esmo, após terem sido emboscados, mas já fora de perigo.
Para um experiente oficial
que atuou no Haiti, porém, esses casos são "mascarados",
porque não há cobertura de imprensa mais efetiva em campo
e pelo fato de o país viver um regime de exceção relativa, sob o
mandato da ONU (Organização
das Nações Unidas).
O Brasil tem o comando da
missão militar da Minustah no
Haiti, mas atua em cooperação
com mais 17 países. As Forças
de Paz da ONU reduziram a criminalidade e retomaram o controle da maior parte do território das gangues. Em outubro de
2007, o mandato da Minustah
foi renovado por um ano e a
ONU tem interesse na continuidade da missão.
Treinamentos diferentes
Uma diferença essencial entre os militares do Haiti e os
que estão na Providência é que
os da missão de Paz passam por
intenso treinamento específico
para esse tipo de atuação, enquanto os demais têm apenas o
treinamento geral.
Um dos casos mais graves no
Haiti e investigado pela ONU
foi a morte de um civil por um
praça brasileiro. Um cabo do
Exército, da guarnição que controlava o trânsito em rua de
Porto Príncipe, após suposto
desacato, disparou e matou o
civil no Haiti.
Como o homem tinha ligações com a ONU, o incidente
gerou investigação de responsabilidade de guatemaltecos e
criou uma crise na missão. Ofícios foram enviados ao Comando do Exército e ao Comando
Militar do Leste (CML), área à
qual o militar pertencia.
Um vídeo assistido por um
oficial superior mostra praças e
até um oficial médico, durante
operação, atirando a esmo, sem
alvo, sobre as posições de tropas brasileiras, para aparecer
em uma filmagem.
Os militares voltavam-se para a câmera e perguntavam se
estavam gravando, enquanto
integrantes do destacamento
das Forças Especiais, sobre a
laje de uma casa, eram alvejados por rebeldes ao dar cobertura para a passagem de tropas.
Era uma situação de possível
"fogo amigo", que poderia atingir militares abrigados nas casas sobre as quais atiravam.
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