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Para moradores, quartel era base de violência
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Moradores do morro da Providência relataram à Folha casos de familiares levados para
quartel do Exército onde sofreram violências e constrangimentos, indicando que, de forma constante, os militares violavam códigos de conduta e a
lei. O Exército afirma desconhecer as acusações.
A dona-de-casa Eliana Zacarias da Silva Santos, 22, disse
que, em dezembro do ano passado, seu marido foi agredido
na porta de casa e levado para a
Companhia de Comando do
Exército, no bairro do Santo
Cristo, onde teria ficado por
mais de 12 horas.
Ela contou que estava na casa da mãe, com o filho recém-nascido, quando ouviu uma
discussão na varanda, onde estava o entregador de pizza Alex
Victor de Oliveira, 28.
"Saí do quarto e vi [militares]
darem um tapa na cara dele",
disse a dona-de-casa.
Segundo ela, Oliveira foi algemado e levado de Jeep para o
quartel, por volta das 10h. Ela
disse que não houve novas
agressões, mas que ele só foi liberado por volta da meia-noite.
"Ele ficou esperando numa sala. Eu já estava preocupada,
pensei que iam prendê-lo."
"Perfil de viciado"
O advogado Alexandre Constantino D'Elia Novello, 43,
também afirmou ter sido vítima da violência de militares.
Ele disse que, há cerca de um
mês, foi abordado quando voltava para casa, na ladeira do
Barroso, por volta de 21h.
"Estava voltando do escritório quando me pararam. Me
identifiquei e começaram a me
esculachar. Até quebraram minha carteira da OAB", relatou o
advogado à Folha.
Segundo ele, os militares não
queriam liberá-lo. "Acho que
meu perfil era de viciado, e eles
queriam me manter em cárcere privado", afirmou.
Ele saiu do quartel, mas foi
perseguido. "Vieram uns cinco
para cima de mim. Levei fuzil
na cabeça, bico, soco e tapa. Fiz
ocorrência na 4ª DP e na Comissão de Direitos Humanos
da OAB", disse Novello.
Investigação
Procurado pela Folha, o procurador da Justiça Militar Antonio Antero dos Santos, que
acompanha as investigações
sobre a participação de militares na entrega de três jovens da
Providência na favela da Mineira, disse que as denúncias
poderão ser alvo de uma "investigação preliminar".
Ele afirmou que ainda não tinha tido acesso à reportagem
publicada na semana passada
pelo jornal em que mototaxistas que trabalham ao lado do
quartel da Companhia de Comando disseram que militares
já teriam deixado dois moradores da Providência na entrada
da favela Roquete Pinto, controlada por milicianos.
De acordo com os mototaxistas, os detidos foram obrigados
a correr em direção à favela,
mas conseguiram escapar depois que o veículo do Exército
deixou o local.
O Exército não quis comentar a reportagem. "Não há nenhum registro sobre a suposta
ocorrência citada em sua mensagem", limitou-se a responder
a Seção de Comunicação Social
do Comando Militar do Leste
em resposta ao e-mail enviado
pela Folha.
O defensor público da União
André Ordacgy defendeu a
apuração desse e de outros casos relatados por moradores do
morro da Providência.
"A população tem que nos
procurar para que possamos
tomar as providências junto ao
Ministério Público, à polícia e
ao Ministério da Defesa", disse.
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