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"Eles saíam com mais ódio", diz mãe
DA REPORTAGEM LOCAL
Miriam mora numa travessa da
rua Arrastão, em Sapopemba,
bairro da zona leste que registrou
90 homicídios só neste ano. Budista, ela cultiva na casa um pequeno altar em que faz orações
pela paz. O marido dirige um elétrico da SPTrans há 25 anos.
O casal teve três filhos, Jhonnes,
Miguel e Michael. Hoje, dois deles
já morreram, o terceiro está internado na Febem. Todos estiveram
pelo menos duas vezes na instituição. O sobrevivente, Michael,
continua internado.
"Cada vez que entravam lá,
saíam piores", diz a mãe. O pai,
evangélico, continua "sem raiva".
Diz que os filhos foram "vítimas
da sujeira do mundo".
Miriam Duarte Pereira, 41, nunca se conformou. "Meus filhos
podem ter errado. Mas ninguém
tem o direito de matá-los."
A história de Miriam é o exemplo da falência do sistema Febem,
no qual o Estado investe R$ 1.700
por mês, por interno, e só recolhe
rebeliões, fugas e mais violência.
Miriam, que acompanhou os filhos nas internações e mortes, hoje faz parte da Amar, Associação
de Mães e Amigos da Criança e do
Adolescente em Risco.
Jhonnes, o mais velho, foi para a
Febem quando roubou R$ 17,00.
Ficou dependente de cocaína,
roubava para comprar drogas e
foi morto pela polícia quando assaltava para fazer "acertos" com
outros policiais, diz Miriam.
Michael tinha 15 anos quando
foi internado. Ficou oito dias e
saiu dirigindo e sabendo como
roubar um carro. Miguel, também dependente, chegou a trabalhar e a estudar à noite. Foi morto
por um estranho quando andava
"com uma moto emprestada".
Durante anos, a mãe diz ter feito
de tudo para tirar os filhos das
drogas. "A Febem nunca ofereceu
tratamento nem cursos. Eles
saíam sempre com mais ódio."
Dois meses atrás, o alojamento
de Michael foi invadido por funcionários com "tacos de beisebol". "No dia seguinte, o secretário Chalita (Gabriel Chalita, da
Educação) e o diretor visitaram a
unidade, viram as marcas de espancamento. Nada aconteceu."
No seu relato, Miriam só deixa
escapar lágrimas quando parece
tomar consciência que perdeu os
filhos. "É difícil olhar para trás e
ver que perdi tudo."
(AB)
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