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NA REAL
Desenvolvimento de tecnologia apropriada para combater o crime eletrônico será uma principais marcas deste século
Guerra à fraude digital será intensificada
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
É guerra.
No século 20, você podia ser furtado. Roubado. Ou assassinado.
No século 21, você também pode ter seus dados vitais emprestados e usados por criminosos anônimos. Bem-vindo à era da fraude
digital, do crime eletrônico e da
clonagem de identidades.
Seu nome, seu crédito, seu dinheiro, até mesmo seu e-mail pode ser usado por um estranho,
que tem como conhecer cada arquivo individual do seu computador dito "pessoal".
"O cartão tinha ficado preso no
caixa eletrônico. Esperei uma semana para pedir outro. Só soube
que ele tinha sido clonado quando me ligaram avisando que tinham feito saques na minha conta", declara o médico Luiz Roberto Barradas Barata, secretário de
Saúde do Estado de São Paulo.
"Meu assessor de imprensa
também teve seu cartão do banco
clonado recentemente", diz.
Cartões de crédito são ainda
mais facilmente clonáveis, pois o
proprietário precisa entregá-lo no
ato da utilização ao vendedor. Em
questão de segundos ele pode ser
passado em um aparelho que copia os dados da tarja magnética.
Quando o comportamento dos
usuários sai muito do padrão,
"em 99,9% dos casos é um clone",
segundo o pesquisador Carlos
Becker Westphall, do Laboratório
de Redes e Gerência da Universidade Federal de Santa Catarina.
Westphall e alunos estudaram
clonagem de telefones celulares e
criaram técnicas para detectar
clones a partir do perfil dos usuários. Os modelos são sofisticados,
usam por exemplo as teorias de
redes neurais, que tentam aproximar o processamento dos computadores ao cérebro humano.
Ou usam os chamados algoritmos
genéticos, um híbrido de matemática com processos naturais
baseados na evolução biológica.
Algoritmo, em informática, é
um "conjunto de regras e operações bem definidas e ordenadas,
destinadas à solução de um problema", diz o dicionário Aurélio.
São fundamentais para "criptografar" informações, isto é, transformá-las em código para dificultar o acesso dos criminosos a elas.
Na guerra real a grande coqueluche são as bombas ditas "inteligentes", "smart bombs", capazes
de guiagem precisa ao alvo. Na
guerra da informação, a nova arma é o "smart card", cartão inteligente, dotado de um microchip
bem menos vulnerável que as tradicionais tarjas magnéticas.
As operadoras de celular apostam na segurança proporcionada
pelo cartão inteligente Simcard
associado com algoritmos de
criptografia. "Até hoje não tem
comunicado oficial da quebra do
sistema GSM", diz Antonio Parrini, diretor de rede da Oi, operadora móvel da Telemar.
Celulares mais antigos são vítimas fáceis. "O sistema analógico é
absolutamente vulnerável", diz o
pesquisador Paul Jean Etienne
Jeszensky, do Laboratório de Comunicações e Sinais da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Ele exemplifica com um
episódio clássico, de mais de uma
década: o caso do príncipe que
queria virar absorvente feminino.
O príncipe britânico Charles
conversava por celular com sua
amante, Camilla Parker-Bowles, e
brincou que gostaria de ser um
tampax para viver dentro dela. A
conversa tinha sido grampeada e
foi parar na imprensa popular.
É a segurança que permite criar
um ambiente para operar os recursos da rede. "É um tema bom
academicamente, como desafio é
ótimo", diz Westphall, pois "por
mais que se criem mecanismos de
segurança, alguém vai e quebra".
Westphall exemplifica com um
caso na sua própria universidade.
Um aluno de graduação se propôs, como trabalho de conclusão
de curso, a descobrir as senhas
dos professores. Dos 450 professores que eram seu "alvo", ele só
não conseguiu a senha de dois. O
motivo: eram os únicos que tinham senhas enormes, com 37
caracteres. O aluno achou que fuçar até 35 dígitos seria suficiente.
"Um funcionário desonesto já
deixa a empresa vulnerável. As
empresas não costumam divulgar
esses casos, mas 75% dos problemas tem como causa uma pessoa
interna", declara Westphall.
"Os golpes têm crescido demais
na área de internet banking", diz
Giordani Rodrigues, editor do InfoGuerra, um pioneiro site dedicado aos temas de segurança e
privacidade na rede mundial
(http://www.infoguerra.com.br).
O nome do site é significativo.
"A tal sociedade da informação
vive uma guerra de informação.
São os vírus, os boatos, os hackers
que deturpam o conteúdo de sites", diz Rodrigues.
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