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Médicos aprovam rigor em lei da bebida
Restrição é forma de frear consumo de álcool antes de dirigir e representa uma tendência mundial, dizem especialistas
Cada dose de bebida leva em média 1 h para ser eliminada do organismo; concentração no sangue depende de sexo, peso e hábitos da pessoa
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça o jantar romântico
acompanhado de vinho ou a
cervejinha no final do expediente com amigos se você for
dirigir depois, aconselham os
médicos. Com a nova lei em vigor, um simples copo dessas
bebidas poderá ser motivo de
multa, suspensão do direito de
dirigir e retenção do veículo.
"Se a pessoa bebe alguma coisa durante o jantar e depois pega o carro e, em seguida, é parada [em uma blitz], o risco [de
ter sinais do álcool no organismo] é muito grande", afirma a
toxicologista Vilma Leyton,
professora da Faculdade de
Medicina da USP e membro da
Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego).
Segundo ela, cada dose de bebida demora em média uma hora para ser eliminada do organismo. A concentração de álcool no sangue depende do peso da pessoa, do sexo e do hábito de beber.
Vilma defende o rigor da nova lei por considerar a única
forma de as pessoas frearem o
consumo de bebidas antes de
dirigir. "Um copo de cerveja ou
uma taça de vinho já pode alterar os reflexos", diz ela.
Ronaldo Laranjeira, médico
psiquiatra, professor e coordenador da Unidade de Pesquisa
em Álcool e Drogas da Unifesp,
explica que a tendência mundial é pela "tolerância zero" em
relação às bebidas. "Nos EUA,
isso já acontece para a faixa etária até os 30 anos", afirma.
Na Suíça, segundo o médico,
estuda-se hoje se o carona
-aquele que viaja ao lado do
motorista- poderia ou não beber. "Entende-se que, bebendo,
ele poderia prejudicar a habilidade do motorista."
Para o médico Milton Steinman, da Sociedade Brasileira
de Atendimento Integrado ao
Traumatizado e do pronto-socorro do Hospital das Clínicas,
mesmo que adote a tolerância
zero, o Brasil ainda vai demorar
para colher os frutos.
"Se a gente fica só em medidas teóricas, do ponto de vista
prático não colhe nada. Só colhe um monte de corpos. No finais de semana, os IMLs ficam
abarrotados com jovens mortos alcoolizados."
Laranjeira afirma que toda a
população terá de mudar comportamentos. "Eu mesmo, se
tomar uma ou duas taças de vinho, vou ter que esperar, para
cada dose, uma hora para ele [o
álcool] desaparecer."
Um levantamento feito por
Vilma Leyton no IML de São
Paulo em 2005 mostrou que
44% dos 3.042 mortos em acidentes de trânsito no Estado
ingeriram álcool antes de dirigir e tinham entre 1,7 ou 2,4 decigramas de álcool por litro de
sangue. "Isso é muito mais que
uma cerveja", diz ela.
Outra pesquisa conduzida
por Ronaldo Laranjeira às sextas e aos sábados com cerca de
5.600 motoristas em cidades
como São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Santos e Diadema
revelou que 30,3% deles tinham álcool no sangue constatado no teste do bafômetro,
sendo que 19,3% tinham níveis
iguais ou superiores a 0,06 decigrama de álcool por litro de
sangue permitido por lei.
Um estudo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, que ouviu mais de mil
universitários do Rio e de SP,
chegou a resultado parecido:
36% deles voltam para casa dirigindo, mesmo depois de consumir bebidas alcóolicas.
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