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DANUZA LEÃO
Tudo por amor
É inacreditável lembrar
dos absurdos que já se fez por
amor.
As mulheres, geralmente, são
guiadas por uma bússola, que é o
homem por quem estão apaixonadas. A partir daí, mudam a vida, os gostos, os hobbies, o paladar e adotam o estilo de vida deles, com o maior prazer.
Dá para acreditar que você, um
dia, debaixo de um sol escaldante, em Roma, passou uma semana inteira visitando o fórum romano, ele com um livro na mão
examinando cada caquinho de
pedra e explicando de que ano
-antes de Cristo- eram, do
tempo de qual imperador, de como ele foi deposto, das guerras, e
você fingindo que escutava, pensando na sandália que havia visto numa loja na véspera e que
não tinha comprado porque
achou cara, será que ainda ia encontrar? Ah, o amor.
O seguinte gostava de futebol, e
até de time ela mudou -com
todo o fervor e sinceridade do
mundo. As tardes de domingo
eram passadas diante da televisão, assistindo aos jogos, e, à
noite, a todas as mesas-redondas,
ela interessadíssima, sempre em
nome do amor.
Houve um outro que fazia a linha cultura, e ela, que havia passado a maior parte da vida cuidando do corpo e não do cérebro,
passou a ler. Começou pelos clássicos, indicados por ele, e de alguns até gostou. Mas ele sabia
tanto de tudo, mas tanto, que a
maior parte das vezes falava de
coisas de que ela nunca ouvira falar (e pelas quais não estava nem
um pouco interessada). Mas prestava a maior atenção e fazia perguntas, às quais ele respondia
com muita paciência. Era uma
vocação de professor não realizada, mas, como ela não estava
mesmo atenta, enquanto ele falava ela pensava em outra coisa. E
nunca lhe ocorreu que, quando
veio a proposta de morarem junto, ela só pensava em ginástica e
em moda -e foi por essa mulher
que ele se apaixonou.
Houve outros que ela preferiria
nem lembrar, mas lembra: do que
resolveu entrar na política e se
candidatar a deputado, por
exemplo. Aí, foi dureza.
Teve que lidar com cabos eleitorais, se relacionar com mulheres
de outros candidatos, viajar para
o interior durante a campanha,
ser gentil e simpática com pessoas
que, francamente, não era possível. Sempre em nome do amor.
Ela sempre ia fundo em tudo o
que fazia e dava a maior força a
tudo que eles queriam. Não que
não tivesse personalidade, mas
era mais forte do que ela: em primeiro lugar eles -cada um de
uma vez, é claro-, e se para ter
uma relação bacana, como nos
filmes, era preciso se adaptar,
abria mão de tudo, e o mais inacreditável: sem o menor sacrifício.
Assim foi indo, mudando de
personalidade a cada homem que
passava, até que um dia, sem namorado, se deu conta de que não
sabia quem era, do que gostava, e
o pior: de que tinha aberto mão
da coisa mais preciosa que tinha
-sua vida, seus gostos, suas preferências- em nome do tal do
amor. E detalhe: nenhum deu
muito certo.
Fez uma profunda reflexão, resolveu dar um tempo e se redescobrir. Foi um caminho difícil, mas
foi indo, e quanto mais coisas descobria, mais insegura ficava: será
que algum homem poderia gostar
dela do jeito que ela é de verdade?
Resolveu arriscar, desse no que
desse; quem sabe sendo ela mesma seria mais feliz do que com
qualquer homem?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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