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SAÚDE
Questionário ajuda a medir intensidade da dependência de usuário de cocaína, o que pode auxiliar no tratamento
Unifesp cria escala para medir "fissura"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL"
Uma vontade intensa capaz de
levar a pessoa a buscar o "objeto"
do desejo a qualquer preço e que
pode, no caso de não obtê-lo, provocar um estado subjetivo de
grande insatisfação e sofrimento.
No geral, esse desejo, de diferentes intensidades, está associado ao
uso de drogas, lícitas ou ilícitas,
mas também ao jogo, ao cigarro
ou ao sexo compulsivo.
Essa sensação, descrita desde
1987 pela Associação Psiquiátrica
Americana, é a "fissura" ou "craving", em inglês. Ela é um dos
componentes da dependência,
por isso conhecê-la melhor e avaliar sua intensidade podem ajudar
no tratamento de dependentes.
Uma equipe da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp)
acaba de validar para o Brasil um
questionário que permite ao consumidor de cocaína saber qual é
seu nível de "fissura" e, consequentemente, em qual faixa de
risco se encontra.
"Todo uso de droga é danoso,
por isso o questionário serve para
alertar aqueles que acreditam estarem fora de perigo", afirma o
psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do trabalho e do
Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Unifesp.
Estudo de José Galduroz e outros, de 2000, estimou em 1,2% o
número de pessoas da população
paulista em geral que usaram cocaína uma vez na vida. Silveira
acredita que esse número seja subestimado, por conta de um
"contingente significativo de profissionais" que consomem cocaína "de forma recreacional ou esporádica, de maneira absolutamente anônima e clandestina".
A maioria desses usuários se
mantém produtiva e socialmente
adaptada, diz Silveira. "Mas uma
minoria acabará por se tornar dependente."
O questionário, publicado nesta
página, se propõe justamente a
identificar aqueles que se encontram em "situação de vulnerabilidade" para a dependência. O
questionário permitiria que o
próprio usuário, diante dos resultados, procurasse ajuda médica.
Segundo Silveira, o questionário é oferecido em empresas e universidades nos EUA e na França,
de forma que as pessoas, mantendo-se no anonimato, possam avaliar seus riscos e procurar ajuda.
O teste é composto por 12 perguntas aparentemente ingênuas e
repetitivas, mas capaz de identificar com bastante segurança o nível de fissura.
Para validar o questionário, Silveira e sua equipe trabalharam
com vários testes usados internacionalmente, até chegar a um que
foi aplicado numa amostra de 205
usuários de cocaína. Parte da
amostra já era dependente e parte
era consumidora eventual.
A cocaína é uma das drogas
mais nocivas e que chega a provocar dependência em cerca de 40%
a 50% dos que a usam -no caso
do álcool e da maconha, esse índice é de 10%. "Uma vez instalada a
dependência, o índice de sucesso
dos tratamentos fica em torno de
30%", diz Silveira.
Além de alertar para o risco de
dependência, o questionário também permite avaliar se a pessoa
em tratamento está melhorando
ou piorando. Por exemplo, quanto maior o tempo entre um uso e
outro, "menor a fissura e mais fácil de controlá-la", diz Silveira.
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