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Em asilo modesto, idoso reclama da falta de sexo
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma placa branca com letras
verdes indica a Clínica de Repouso Estância Cantareira, onde um portão de ferro separa
Lalete do mundo. Lá, ela passa
tardes sentada em um banco,
com a bolsa a tiracolo, onde
guarda o caderno de anotações
com confissões de amor ao dono do lugar, mais registros de
sua vida. "Escrevo o que sinto."
Há quase dez anos por lá, ela
não pensa em sair. Como os seis
irmãos, o marido e o filho morreram, Lázara Sampaio, 82, ficou sozinha. "Aí me puseram
aqui." Mas não sente solidão.
Antes, "ficava nesse banco escrevendo e chorando." Mas hoje passou e ela comemora a presença das colegas de quarto.
Como Lalete, outros cerca de
80 idosos se misturam com
doentes mentais na clínica, que
tem 55 funcionários para seus
pacientes -segundo a dona,
Cleide Mazzulli, 115 moradores, que pagam R$ 1.040 por um
quarto para quatro pessoas.
Passam o dia na sacada com
uma revista velha na mão;
vêem TV sem parar ou conversam ao ar livre. O resto dorme.
"O que mais pega é a falta da
família, porque eles deixam o
parente aqui e lavam as mãos",
diz Mazzulli, acostumada às
queixas dos moradores. Teve
um caso, conta, que a família levou mais de 30 horas para providenciar o funeral. O corpo ficou esperando no necrotério da
clínica. "E a maioria dá graças a
Deus, porque é aquele valor a
menos a pagar por mês."
Já Abelardo Queiroz, 72, fala
convicto: "Estou aqui espontaneamente". Isso porque chegou ali para se recuperar de
uma cirurgia, há um ano. "Mas
aí os filhos diziam: "fica pai,
aqui tem remédio, companhia".
Fui ficando." No tempo ocioso,
joga baralho, dominó, vê futebol. Nos fins-de-semana, vai ao
baile, quando tem. "Falta de sexo a gente sente, porque aqui
não dá, é tudo de olho aberto",
diz. Mas diz não ter namorada.
"A gente dá mais atenção pra
uma ou outra, e só."
Ele só reclama mesmo de não
poder sair do asilo. "Eles têm
medo. Até pra ir no boteco
comprar cigarro tem que ir
acompanhado." É que, depois
de cinco anos sem fumar, faz
seis meses que voltou. É a família que traz os maços de Derby a
cada visita.
WILLIAN VIEIRA
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