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Medo de perder mãe levou menina à psicoterapia
DA REPORTAGEM LOCAL
Era Rosa, 44, sair de casa para trabalhar e sua filha, de 11
anos, começar a chorar, gritar,
espernear -ela não conseguia
ficar sozinha. O mesmo acontecia se tinha de usar um elevador
ou até se um mosquito chegasse perto. "Eu sempre achava
que era birra", diz a mãe. "Um
dia perguntei por que ela chorava tanto quando eu saía e ela
disse que tinha medo que eu
morresse no meio da rua."
Até que Rosa viu a filha em
pânico por causa das notícias
que assistia na televisão -tudo
"porque o derretimento das geleiras era um risco mundial". A
menina deixou cair o chocolate
que comia, seu coração disparou, ela começou a suar e foi ao
banheiro vomitar.
"Aí eu vi que esse medo não
era normal", diz Rosa, que levou a menina ao psiquiatra, depois que o marido viu no jornal
que o Hospital das Clínicas fazia um estudo sobre transtornos de ansiedade. Achou que os
sintomas batiam. E Rosa levou
a menina ao hospital, se inscreveu e começou a tratá-la. O
diagnóstico: TAG (Transtorno
de Ansiedade Generalizada).
Era setembro de 2006, quando ela começou a fazer terapia
psicológica e a tomar antidepressivos (clonipramina). Três
meses depois, "ela já tinha melhorado uns 60%", diz Rosa. A
menina começou a descer de
elevador, a ficar sozinha, a ver
televisão sem chorar. O tratamento durou nove meses. "Hoje é uma menina normal", diz.
Mas ela não teve medo de
medicar a filha? "Muitas mães
que conheci com filhos com o
mesmo problema diziam: "Ai,
remédio, meu Deus, não quero
dar remédio pro meu filho tão
pequeno". Eu também tive medo. Mas resolvi confiar."
Rosa diz que a escola era o
único lugar em que a filha se
sentia bem. Mas, aconselhada
pela psicóloga, conversou com
as professoras e explicou a ansiedade clínica da menina. E a
filha segue com boas notas.
"Achava que ia morrer"
A filha de Rosa tem vocabulário e desenvoltura incomuns
para os 11 anos. Seus cabelos
castanhos são lisos e penteados, o rosto, diáfano, como de
cera. Os olhos não param, como
as mãos, que gesticulam sempre enquanto ela fala -e ela fala muito, o tempo todo.
"Eu tinha medo de tudo", diz,
arrumando-se na cadeira do
consultório onde esteve meses
a fio. "Deixei de brincar para
não pegar elevador. Quando
minha mãe saía, eu entrava em
pânico, achava que ela ia morrer. Mas hoje estou bem melhor", diz, balançando a cabeça.
Então ela pára, revolve a memória e segue narrando sua pequena epopéia. "Eu adoro
Harry Potter, mas parei de ler
por medo do lobisomem. Se um
mosquito entrava na sala, eu
começava a gritar, achava que
se me picasse eu ia morrer.
Sempre achava que ia morrer.
Boba, né?"
(WV)
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