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SAÚDE / INFÂNCIA
Ansiedade excessiva pode prejudicar saúde de criança
Transtornos e fobias podem culminar em sintomas como choro, insônia e taquicardia
Médicos discutem de que forma o tratamento medicamentoso ou o acompanhamento psicológico podem auxiliar
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 12 anos e cursando o sexto ano da escola, um garoto passa por provações antecipadas
de sua masculinidade: joga bola, forma grupos de amigos, paquera. "Mas se não dorme no
acampamento de férias por não
conseguir ficar longe da mãe,
vai ser tachado, e isso é muito
sério pra ele", diz Fernando Asbarh, psiquiatra e coordenador
de um grupo de estudos sobre
transtornos de ansiedade no
Hospital das Clínicas da USP.
"É quando a ansiedade passa
a prejudicar a vida da criança
que delimitamos o transtorno",
diz Asbarh. Segundo o estudo,
cerca de 5% de crianças e jovens sofrem de algum transtorno do tipo, com sintomas de ansiedade e preocupações excessivas para a idade, que persistem por mais de seis meses.
Sintomas que podem culminar
em crises de choro e pânico ou
se converter em efeitos físicos,
como insônia, tremores, diarréia e taquicardia.
O menino que não dormia
longe da mãe está em tratamento, diagnosticado com TAS
(transtorno de ansiedade de separação) e fobia específica; no
caso dele, fobia de prova.
"Na noite anterior não dormia, às vezes vomitava, não ia à
escola", diz Asbahr. Muitas vezes, a mãe tinha que ir buscá-lo.
As notas caíram e o complexo
de inferioridade, aumentou. Há
um ano fazendo terapia e tomando antidepressivo (já em
fase de redução da dose), suas
notas melhoraram e ele conseguiu, pela primeira vez, passar
férias no acampamento.
No caso do TAG (transtorno
de ansiedade generalizada), um
dos mais comuns, "a criança é
incapaz de relaxar um segundo" e tem reações desproporcionais de medo e ansiedade no
convívio social. "Se não for tratado, pode se tornar crônico e
prejudicar o desempenho escolar e a vida social", diz Asbarh.
Mas há uma série de outros
transtornos com sintomas semelhantes, como o transtorno
de ansiedade de separação; a fobia social; as fobias específicas,
como medo de elevador, de inseto, de prova escolar; e o transtorno do pânico, menos comum em crianças e adolescentes que em jovens, mas que
também traz sintomas de ansiedade e pode vir junto das fobias específicas.
"O que importa não é o nome
que se dá, mas como podemos
mitigar esses sintomas prejudiciais", afirma Asbarh. Ele diz
que é comum que os traços de
ansiedade se desenvolvam na
infância ou adolescência. Por
isso os pais deveriam estar
atentos ao que é uma personalidade difícil ou "birra" e o que
pode ser um problema clínico.
"Na dúvida, melhor ter a avaliação psiquiátrica", afirma.
Medicação
Especialistas, porém, relativizam o tratamento clínico da
ansiedade em crianças e jovens
de 7 a 17 anos -faixa etária do
estudo desenvolvido pelo HC,
no qual 60 pacientes, em três
grupos, receberão clomipramina, fluoxetina e placebo (os recursos são da Fapesp).
"A medicação brava é complicada nessa idade", afirma a
professora de psicologia da
PUC e supervisora da clínica
psicológica da universidade,
Camila Sampaio. Segundo ela, a
medicação deve servir para ajudar a criança a ter consciência
de sua condição e adquirir segurança para vencer a ansiedade e o medo. "Mas medo e ansiedade devem, sempre, ser tratados de forma psicológica."
"O medicamento deve ser colocado com muita cautela",
concorda a psicanalista Ana
Maria Trinca, para quem a avaliação do transtorno deve partir de uma relação de proximidade dos pais com os filhos. "Os
pais têm que conhecer bem os
filhos, um pai distante não consegue avaliar, acha que a criança é mal-educada, sente-se impotente", afirma.
Por isso, Trinca defende que
os pais também participem de
uma eventual psicoterapia.
"Eles não podem jogar a culpa
em cima da criança, pois a relação é sempre dinâmica." Afinal,
diz, "não são todas as crianças
que precisam de um psicólogo
ou de um psiquiatra".
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