São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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SAÚDE / INFÂNCIA

Ansiedade excessiva pode prejudicar saúde de criança

Transtornos e fobias podem culminar em sintomas como choro, insônia e taquicardia

Médicos discutem de que forma o tratamento medicamentoso ou o acompanhamento psicológico podem auxiliar

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 12 anos e cursando o sexto ano da escola, um garoto passa por provações antecipadas de sua masculinidade: joga bola, forma grupos de amigos, paquera. "Mas se não dorme no acampamento de férias por não conseguir ficar longe da mãe, vai ser tachado, e isso é muito sério pra ele", diz Fernando Asbarh, psiquiatra e coordenador de um grupo de estudos sobre transtornos de ansiedade no Hospital das Clínicas da USP.
"É quando a ansiedade passa a prejudicar a vida da criança que delimitamos o transtorno", diz Asbarh. Segundo o estudo, cerca de 5% de crianças e jovens sofrem de algum transtorno do tipo, com sintomas de ansiedade e preocupações excessivas para a idade, que persistem por mais de seis meses. Sintomas que podem culminar em crises de choro e pânico ou se converter em efeitos físicos, como insônia, tremores, diarréia e taquicardia.
O menino que não dormia longe da mãe está em tratamento, diagnosticado com TAS (transtorno de ansiedade de separação) e fobia específica; no caso dele, fobia de prova.
"Na noite anterior não dormia, às vezes vomitava, não ia à escola", diz Asbahr. Muitas vezes, a mãe tinha que ir buscá-lo. As notas caíram e o complexo de inferioridade, aumentou. Há um ano fazendo terapia e tomando antidepressivo (já em fase de redução da dose), suas notas melhoraram e ele conseguiu, pela primeira vez, passar férias no acampamento.
No caso do TAG (transtorno de ansiedade generalizada), um dos mais comuns, "a criança é incapaz de relaxar um segundo" e tem reações desproporcionais de medo e ansiedade no convívio social. "Se não for tratado, pode se tornar crônico e prejudicar o desempenho escolar e a vida social", diz Asbarh.
Mas há uma série de outros transtornos com sintomas semelhantes, como o transtorno de ansiedade de separação; a fobia social; as fobias específicas, como medo de elevador, de inseto, de prova escolar; e o transtorno do pânico, menos comum em crianças e adolescentes que em jovens, mas que também traz sintomas de ansiedade e pode vir junto das fobias específicas.
"O que importa não é o nome que se dá, mas como podemos mitigar esses sintomas prejudiciais", afirma Asbarh. Ele diz que é comum que os traços de ansiedade se desenvolvam na infância ou adolescência. Por isso os pais deveriam estar atentos ao que é uma personalidade difícil ou "birra" e o que pode ser um problema clínico. "Na dúvida, melhor ter a avaliação psiquiátrica", afirma.

Medicação
Especialistas, porém, relativizam o tratamento clínico da ansiedade em crianças e jovens de 7 a 17 anos -faixa etária do estudo desenvolvido pelo HC, no qual 60 pacientes, em três grupos, receberão clomipramina, fluoxetina e placebo (os recursos são da Fapesp).
"A medicação brava é complicada nessa idade", afirma a professora de psicologia da PUC e supervisora da clínica psicológica da universidade, Camila Sampaio. Segundo ela, a medicação deve servir para ajudar a criança a ter consciência de sua condição e adquirir segurança para vencer a ansiedade e o medo. "Mas medo e ansiedade devem, sempre, ser tratados de forma psicológica."
"O medicamento deve ser colocado com muita cautela", concorda a psicanalista Ana Maria Trinca, para quem a avaliação do transtorno deve partir de uma relação de proximidade dos pais com os filhos. "Os pais têm que conhecer bem os filhos, um pai distante não consegue avaliar, acha que a criança é mal-educada, sente-se impotente", afirma.
Por isso, Trinca defende que os pais também participem de uma eventual psicoterapia. "Eles não podem jogar a culpa em cima da criança, pois a relação é sempre dinâmica." Afinal, diz, "não são todas as crianças que precisam de um psicólogo ou de um psiquiatra".


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