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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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PROGRAMA SOCIAL

Famílias já cadastradas ou aspirantes ao Bolsa-Escola relatam penúria causada pela falta do auxílio

Benefício é reforço para compras do mês

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Arroz, feijão, óleo e açúcar. A cesta básica mínima que a dona-de-casa Cilvanira Nogueira, 33, consegue reunir para sustentar os cinco filhos (de 1 ano e 4 meses a 14 anos) deve-se em grande parte à ajuda de seus vizinhos, no Parque Novo Mundo, bairro da zona norte de São Paulo.
O marido, ajudante de transportadora, mas atualmente desempregado, não obtém dinheiro suficiente com os poucos bicos de pedreiro que arranja eventualmente. Segundo ela, às vezes Francisco Genivaldo Nogueira Lima, 36, consegue com esses empregos temporários reunir um salário de R$ 200 ou de R$ 250. "Carne se come quando aparece. Quanto não dá, a gente se vira com o que tem", afirma.
Mesmo em São Paulo, cidade que não possui problemas de sobra de bolsas, podem acontecer exclusões do programa. Sua família recebia até o mês passado do governo federal R$ 45 porque três de seus filhos estavam inscritos no Bolsa-Escola.
Como completou 12 meses no programa geral de assistência social da Prefeitura de São Paulo, teve de ser recadastrada e ficou neste mês sem receber o benefício.
Faz falta. "O dinheiro ajudava muito. Dava para ir ao supermercado todo mês. Com meu marido desempregado, a gente não tem renda certa", afirma.
A Secretaria Municipal do Trabalho informa que é realizado o recadastramento quando se completam 12 meses de benefício.
Não deveriam acontecer atrasos. Quando ocorrem, as famílias que mantenham o direito ao benefício o recebem retroativamente. A prefeitura estima que o pagamento da família Nogueira volte a ser feito no próximo mês.
Na fila de espera, também está a vigia de estacionamento em Belo Horizonte Sônia Isidoro Cruz, 39, que fez o cadastro no Bolsa-Escola há dois meses e meio. Na ocasião, foi orientada pela atendente a esperar um telefonema, que confirmaria sua entrada no programa. "Não me deram resposta."
Ela conheceu o Bolsa-Escola por meio de comentários em seu bairro, Alto Vera Cruz, um dos mais violentos da capital mineira. Ali, diz conhecer famílias que recebem o benefício e não mantêm os filhos na escola. "Os meus [filhos], levo com sacrifício [à escola] e sem ajuda do governo."
Solteira, ela sustenta três filhos -Michael, 10, Ramon, 16, e Jane, 18- com o salário de R$ 285 que recebe por dez horas diárias de trabalho no estacionamento. Com o dinheiro do Bolsa-Escola, diz, poderia compensar os gastos com passagens e livros.

Mais sorte
Já Maria de Fátima Silva, 34, mora no mesmo endereço de Cilvanira Nogueira (nos fundos), também é mãe de cinco filhos, como sua vizinha, mas teve mais sorte do que ela.
Dois de seus filhos continuam recebendo o benefício do Bolsa-Escola. "O dinheiro [do programa] serve para muita coisa."
Para Simone Vieira de Souza, 34, o dinheiro do programa é uma "bênção". Moradora de Lindéia, na periferia de Belo Horizonte, ela recebe R$ 45 por três filhos matriculados. É dona-de-casa e vive com cinco filhos -com idades entre 2 e 16 anos- e o marido, que é mecânico e recebe aproximadamente R$ 500 por mês.
"Com meu marido desempregado, já tive de alimentar meus filhos com o dinheiro [do Bolsa-Escola]. Sem o dinheiro, não sei o que seria de nós."
Todo mês, ela saca a quantia em loterias perto de casa. Gasta o recurso em material escolar e roupas para seus filhos.
"É uma ajuda boa demais, uma maravilha", afirma. (ARMANDO PEREIRA FILHO E THIAGO GUIMARÃES)

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