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PROGRAMA SOCIAL
Famílias já cadastradas ou aspirantes ao Bolsa-Escola relatam penúria causada pela falta do auxílio
Benefício é reforço para compras do mês
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Arroz, feijão, óleo e açúcar. A
cesta básica mínima que a dona-de-casa Cilvanira Nogueira, 33,
consegue reunir para sustentar os
cinco filhos (de 1 ano e 4 meses a
14 anos) deve-se em grande parte
à ajuda de seus vizinhos, no Parque Novo Mundo, bairro da zona
norte de São Paulo.
O marido, ajudante de transportadora, mas atualmente desempregado, não obtém dinheiro
suficiente com os poucos bicos de
pedreiro que arranja eventualmente. Segundo ela, às vezes
Francisco Genivaldo Nogueira Lima, 36, consegue com esses empregos temporários reunir um salário de R$ 200 ou de R$ 250.
"Carne se come quando aparece.
Quanto não dá, a gente se vira
com o que tem", afirma.
Mesmo em São Paulo, cidade
que não possui problemas de sobra de bolsas, podem acontecer
exclusões do programa. Sua família recebia até o mês passado do
governo federal R$ 45 porque três
de seus filhos estavam inscritos
no Bolsa-Escola.
Como completou 12 meses no
programa geral de assistência social da Prefeitura de São Paulo, teve de ser recadastrada e ficou neste mês sem receber o benefício.
Faz falta. "O dinheiro ajudava
muito. Dava para ir ao supermercado todo mês. Com meu marido
desempregado, a gente não tem
renda certa", afirma.
A Secretaria Municipal do Trabalho informa que é realizado o
recadastramento quando se completam 12 meses de benefício.
Não deveriam acontecer atrasos. Quando ocorrem, as famílias
que mantenham o direito ao benefício o recebem retroativamente. A prefeitura estima que o pagamento da família Nogueira volte a
ser feito no próximo mês.
Na fila de espera, também está a
vigia de estacionamento em Belo
Horizonte Sônia Isidoro Cruz, 39,
que fez o cadastro no Bolsa-Escola há dois meses e meio. Na ocasião, foi orientada pela atendente
a esperar um telefonema, que
confirmaria sua entrada no programa. "Não me deram resposta."
Ela conheceu o Bolsa-Escola por
meio de comentários em seu bairro, Alto Vera Cruz, um dos mais
violentos da capital mineira. Ali,
diz conhecer famílias que recebem o benefício e não mantêm os
filhos na escola. "Os meus [filhos], levo com sacrifício [à escola] e sem ajuda do governo."
Solteira, ela sustenta três filhos
-Michael, 10, Ramon, 16, e Jane,
18- com o salário de R$ 285 que
recebe por dez horas diárias de
trabalho no estacionamento.
Com o dinheiro do Bolsa-Escola,
diz, poderia compensar os gastos
com passagens e livros.
Mais sorte
Já Maria de Fátima Silva, 34,
mora no mesmo endereço de Cilvanira Nogueira (nos fundos),
também é mãe de cinco filhos, como sua vizinha, mas teve mais
sorte do que ela.
Dois de seus filhos continuam
recebendo o benefício do Bolsa-Escola. "O dinheiro [do programa] serve para muita coisa."
Para Simone Vieira de Souza,
34, o dinheiro do programa é uma
"bênção". Moradora de Lindéia,
na periferia de Belo Horizonte, ela
recebe R$ 45 por três filhos matriculados. É dona-de-casa e vive
com cinco filhos -com idades
entre 2 e 16 anos- e o marido,
que é mecânico e recebe aproximadamente R$ 500 por mês.
"Com meu marido desempregado, já tive de alimentar meus filhos com o dinheiro [do Bolsa-Escola]. Sem o dinheiro, não sei o
que seria de nós."
Todo mês, ela saca a quantia em
loterias perto de casa. Gasta o recurso em material escolar e roupas para seus filhos.
"É uma ajuda boa demais, uma
maravilha", afirma. (ARMANDO PEREIRA FILHO E THIAGO GUIMARÃES)
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