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POLÍCIA
Empresários são acusados de envolvimento em esquema de carros roubados, falsificação de dólares e golpes imobiliários
Criadores do dossiê Caribe são presos em São Paulo
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Criadores e vendedores do chamado dossiê Caribe, os empresários João Roberto Barusco, 44,
Ney Lemos dos Santos, 49, e Luiz
Claudio Ferraz da Silva, 60, foram
presos em São Paulo acusados de
envolvimento em esquema de
carros importados roubados, na
falsificação de dólares e em golpes
imobiliários aplicados no litoral.
O dossiê é um conjunto de cópias de papéis, sem autenticidade
comprovada, divulgados na campanha eleitoral de 98, que sugeriam a existência de uma conta no
exterior em nome de membros da
alta cúpula do PSDB, entre eles o
então presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista Mário Covas e os ministros
José Serra (Saúde) e Sérgio Motta
(Comunicações).
Até 2001, não se sabia se os supostos documentos eram verdadeiros ou não. A Folha, que noticiou o caso, foi o primeiro jornal a
divulgar a falsidade do principal
documento do dossiê: um extrato
bancário no valor de US$ 352,971
milhões em nome da CH, J & T
-a suposta empresa dos tucanos-, no banco de investimentos Schroders na Suíça.
Na última quarta-feira, os três
foram detidos pelo Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) em uma
operação montada para pegar um
traficante que estaria agindo na
região de Moema (zona sul).
O suspeito, no caso, era Jair Gomes Freire, 49, atual "sócio" de
Barusco e Santos, que acabou preso dirigindo um Jaguar ano 2000,
roubado em abril do ano passado
em Curitiba. "Ele usou um espelho [impresso] quente para trocar
a placa do carro em São Paulo",
disse o delegado Pascoal Ditura,
49, que coordenou a ação.
No veículo, a polícia ainda
apreendeu uma porção de maconha atrás do banco traseiro.
Os trio estaria negociando carros roubados ou contrabandeados com documentos falsos.
Barusco, Santos e Silva foram
detidos em seguida. No escritório
deles, o Denarc apreendeu documentos que podem ter servido
para golpes, como o caso de uma
casa negociada no Guarujá, e um
quadro do pintor Di Cavalcanti,
que pode ser falsificado.
No final da operação, segundo o
delegado Ivaney Cayres de Souza,
diretor do departamento, os policiais apreenderam US$ 50 mil dólares em notas falsas na casa da
namorada de Freire. O dinheiro
faria parte de um lote de US$ 1 milhão encomendado por eles em
uma gráfica de Ponta Porã (MS,
na fronteira com o Paraguai).
A quantia, de acordo com a polícia, seria usada na compra de
um hangar na capital. Porém, devido à qualidade ruim das notas
de US$ 100, a maior parte do lote
teria sido devolvida à gráfica.
A pedido da polícia, a Justiça de
São Paulo decretou a prisão temporária dos quatro. Eles foram
autuados por receptação e formação de quadrilha, mas também serão investigados pelo uso de dinheiro e de documentos falsos.
Anteontem, o Denarc ainda
desconhecia o quanto o escritório
comercial deles havia faturado
com os negócios dos carros importados ou roubados. Três veículos foram apreendidos.
Freire, detido com o carro roubado no Paraná, não quis dar entrevista à Folha. "Estou sendo
ameaçado [pelos ex-sócios] e não
tenho nada a falar", afirmou.
Barusco disse que sua empresa
foi usada por Freire para os golpes
descobertos pela polícia, os quais
ele ignorava. "Eu não sabia de nada. Meu sócio [Santos] o trouxe
para trabalhar com a gente." Só
com o dossiê Caribe, o empresário disse ter faturado cerca de US$
500 mil em 98. Freire não quis falar sobre as acusações. Silva negou envolvimento no caso.
No escritório dos acusados, o
Denarc apreendeu ainda arquivos
de computador contendo um livro que Barusco está concluindo
sobre o dossiê Caribe (veja texto
nesta página). É um relato sobre
como foram criados os falsos documentos, em Miami, que teriam
sido adquiridos pela família do
ex-presidente Fernando Collor. O
preço da transação, diz ele: US$
2,2 milhões pagos em cheque.
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