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SAÚDE
Substância corrosiva "queima" o esôfago e deixa sequelas; produto de limpeza é vice-líder no ranking de intoxicações
Soda cáustica causa lesão grave em criança
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As intoxicações causadas por
produtos de limpeza, especialmente os que contêm soda cáustica, são as que mais deixam sequelas nas crianças com menos de
cinco anos de idade. Por ser altamente tóxica e corrosiva, a soda
cáustica provoca graves lesões no
esôfago. Nos casos mais graves,
pode levar à morte.
Para toxicologistas e pediatras, a
situação tem se agravado com a
proliferação dos produtos sanitários clandestinos, que já respondem por um terço do consumo no
país, segundo a Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas). Em geral, esses produtos têm
na sua composição substâncias
tóxicas em excesso.
Os produtos de limpeza ocupam o segundo lugar no ranking
das intoxicações que vitimam
crianças com menos de cinco
anos no Brasil. Foram 2.339 casos
em 2001, 19% do total de intoxicações nessa faixa etária, segundo
dados parciais do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz). Esses
números referem-se a 13 dos 31
centros que compõem o Sinitox.
Os remédios foram responsáveis por 38% dos casos de intoxicações infantis. Desde 1997, eles
estão no topo do ranking (leia texto abaixo). Segundo Rosany
Bochner, coordenadora do Sinitox, nos dois casos, o principal
motivo da intoxicação é o mesmo:
o descuido dos pais, que deixam
remédios e produtos de limpeza
ao alcance das crianças, associado
às embalagens inseguras.
O caso de Lucas, 3, é um exemplo típico. Ele encontrou uma
garrafa plástica de guaraná perto
do tanque e, imediatamente, levou-a à boca. O líquido era água
sanitária, que provocou queimadura na boca e no esôfago. "Agora, tranco tudo no armário", diz a
mãe, Maria Caetano, 32.
Segundo a médica toxicologista
Darciléa Alves do Amaral, coordenadora do Centro de Controle
de Intoxicações da Prefeitura de
São Paulo, que funciona no Hospital Jabaquara (zona sul), a água
sanitária esteve presente em 37%
dos casos de intoxicações por
produtos de limpeza atendidos
pelo serviço em 2002.
Em segundo lugar no ranking,
vieram os removedores de cera e
de gordura, com 14%, e, em terceiro, a soda cáustica, com 8%.
A maior parte dos envenenamentos, diz Amaral, ocorre no
horário do almoço, das 10h às 14h,
período em que a criança está
com fome e a mãe, ocupada.
Segundo os médicos, os pais
não devem induzir o vômito nas
crianças. Se o produto ingerido tiver querosene, por exemplo, o vômito aumenta a possibilidade de
aspiração da substância, o que pode causar grave pneumonia.
Água sanitária e produtos que
contenham soda cáustica também não devem ser vomitados,
pois queimam a mucosa do aparelho digestivo.
A queimadura, especialmente a
provocada pela soda cáustica, pode causar lesões na língua, boca,
faringe e laringe, além de estenose
(estreitamento) do esôfago, afirma Vera Sdepanian, professora
de gastroenterologia infantil da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), na capital paulista.
Nesses casos, diz Sdepanian, é
preciso dilatar o esôfago e introduzir vários tubinhos para aumentar o órgão. O procedimento
tem de ser repetido várias vezes
porque, com a cicatrização, o canal volta a diminuir, causando
problemas na deglutição. Dependendo do grau da lesão, é preciso
colocar uma sonda.
Segundo José Américo de Campos, presidente do departamento
de segurança na infância da Sociedade Brasileira de Pediatria, é desaconselhável dar leite à criança.
"O leite empurra o produto tóxico
e dificulta a lavagem estomacal."
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