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Tenente dá nova versão para morte dos 3 jovens
DA SUCURSAL DO RIO
O tenente Vinícius Ghidetti
deu, em depoimento ao Exército, uma nova versão para a
morte dos três rapazes no morro da Mineira, no dia 14. Ele disse ter sido agredido pelos jovens e responsabilizou o sargento Leandro Maia Bueno pelo contato com traficantes.
O depoimento, na sexta-feira, durou cinco horas. Ghidetti,
25, reafirmou que a intenção
era dar um susto nos jovens,
mas acrescentou detalhes até
então desconhecidos.
Pelo novo relato, o tenente
foi agredido por um grupo de
moradores no morro da Providência. Um jovem teria o atacado após a revista de um suspeito, que portaria uma arma.
Ghidetti disse que reagiu
com um tiro para o alto. A briga
acabou e três dos envolvidos na
confusão foram detidos por desacato. Nessa hora, o sargento
se aproximou para indicar que,
uma semana antes, um dos detidos havia ameaçado explodir
uma granada na principal boca-de-fumo da Providência, ao ser
abordado por militares.
Após os rapazes serem liberados pelo capitão Leandro
Ferrari no quartel, o tenente
decidiu dar um susto neles, soltando-os na entrada da Mineira, favela inimiga da Providência. Livres, eles teriam que correr para fugir dos traficantes.
O que deu errado, segundo o
depoimento: o caminhão do
Exército com os três presos entrou na Mineira sem que os 11
militares percebessem. Um soldado, então, viu traficantes armados. O sargento Bueno, por
iniciativa própria, pôs o fuzil
nas costas e andou em direção
aos traficantes, acenando que
estava ali em paz. Três deles
apareceram para conversar.
Os traficantes teriam dito ao
tenente que espancariam os rapazes e os libertariam. Entregues, os rapazes foram torturados e mortos com 46 tiros.
A Folha procurou ontem o
advogado de Bueno, mas não
conseguiu falar com ele.
Indiciamento
O capitão Leandro Ferrari
sabia que Ghidetti daria um
susto nos jovens, disse o delegado Ricardo Dominguez, que
investiga o caso. Foi Ferrari
que ordenou que os jovens fossem liberados.
"Ele [Guidetti] falou que ia
dar uma volta com os rapazes e
depois os liberaria." O capitão
tentou evitar que Guidetti saísse, mas não o impediu, disse
Dominguez. "O capitão saiu da
base onde estava, foi até o tenente, que já estava na cabine
do caminhão, e mandou que
não fizesse aquilo, que era levar
os jovens para dar uma volta. O
capitão pode ter descumprido,
sim [alguma norma], pelo fato
de não ter contido o tenente."
Ele deve ser indiciado pelo
Exército por prevaricação, disse o delegado. O Exército não
confirmou. O capitão Ferrari
também não foi localizado.
(ST)
Colaborou LUÍSA BELCHIOR
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