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Lei seca é uma das mais rígidas do mundo
Limite de dosagem alcoólica na nova legislação brasileira de trânsito é mais rígido que o de 63 nações, entre 82 pesquisadas
Com a nova lei, em vigor desde sexta, o limite legal é
um chope; lei prevê multa de R$ 955, perda do direito
de dirigir e retenção do carro
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa lista de 82 países pesquisados pela International
Center for Alcohol Policies,
instituição com sede em Washington (EUA), a nova lei seca
brasileira -que torna ilegal dirigir com concentração a partir
de dois decigramas de álcool
por litro de sangue- é mais rígida que a de 63 nações, iguala-se em rigidez a cinco e é mais
tolerante que outras 13, onde o
limite legal varia de zero a um
decigrama.
Com a nova lei, em vigor
desde sexta-feira passada, o limite legal agora é equivalente
a um chope. Além de multa de
R$ 955, a lei prevê a perda do
direito de dirigir por um ano e a
retenção do veículo.
A partir de seis decigramas
por litro (o equivalente a dois
chopes), a punição será acrescida de prisão. A pena de seis meses a três anos e é afiançável (de
R$ 300 a R$ 1.200, em média,
mas depende do entendimento
do delegado).
Em países vizinhos ao Brasil,
como Argentina, Venezuela e
Uruguai, o limite legal de concentração de álcool no sangue
varia de cinco decigramas por
litro a oito decigramas por litro.
Na Europa, países como
Alemanha, França, Espanha
e Itália têm limites de cinco
decigramas por litro, acima do
índice brasileiro.
Nos Estados Unidos, onde a
lei varia a cada Estado, o limite
fica entre um e oito decigramas
por litro. Igualam-se ao Brasil
ao fixar dois decigramas por litro os países nórdicos, como
Suécia e Noruega.
Menos tolerantes que o Brasil estão algumas nações do leste europeu, como Romênia e
Hungria, onde o limite é zero.
Em alguns lugares, a lei é
mais abrangente e proíbe a
condução de barcos, como no
Canadá, ou de bicicletas, como
a Califórnia (EUA). A Suíça avalia se o carona poderia ou não
beber para não prejudicar a habilidade do condutor.
"Foi um avanço, mas o melhor é o limite zero. O problema
é implementar a fiscalização.
São Paulo tem um número irrelevante de bafômetros", diz
Sérgio Duailibi, da Unidade de
Pesquisa em Álcool e Drogas da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
"A legislação no mundo inteiro está mudando. É preciso fazer uma fiscalização rigorosa
com bafômetro. No Brasil, o
mais grave é que nunca houve
um apoio popular mais forte a
medidas assim", completa.
Pesquisa conduzida por ele e
pelo também médico Ronaldo
Laranjeira, com cerca de 5.600
motoristas em cidades como
São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Santos e Diadema revela
que, às sextas e sábados, 30,3%
deles tinham algum nível de álcool no sangue constatado no
teste do bafômetro, sendo que
19,3% tinham níveis iguais ou
superiores a seis decigramas de
álcool por litro de sangue, o limite atual para prisão.
Advogados
O advogado Ives Gandra
Martins diz que a lei é exagerada. "Prisão provisória é uma
violência grande. Sou favorável
ao enrijecimento da legislação,
mas do ponto de vista pecuniário: multas elevadas."
O advogado Roberto Delmanto afirma que ninguém, pela Constituição, é obrigado a
produzir prova contra si, referindo-se ao fato de a lei prever
multa de R$ 955 para o motorista que se recusar a fazer o
teste do bafômetro. A orientação dele é não fazer o exame e
questionar a multa na Justiça.
Colaborou ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local
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