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SAÚDE
Dados da Opas mostram que 48% das infecções são "domésticas", causadas por falta de cuidado na cozinha
Doenças por comida ocorrem em casa
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Você guarda ovos na porta da
geladeira? Deixa a comida do almoço sobre o fogão para esquentá-la à noite? Coloca a carne para
descongelar sobre a pia? Esquece-se de lavar as mãos cada vez que
vai ao banheiro ou quando manipula alimentos diferentes?
Se respondeu sim para pelo menos duas dessas perguntas, comece a se preocupar. Levantamento
da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), feito no período
de 1993 a 2001, mostra que 48%
dos surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) no Brasil ocorreram dentro de casa.
As doenças de origem alimentar, causadas por bactérias patogênicas, podem provocar de um
simples mal-estar, náuseas, dor
de cabeça ou diarréia até uma paralisação respiratória e cardíaca,
podendo levar à morte.
Segundo especialistas em nutrição, na maioria dos casos, essa
contaminação é provocada por
maus hábitos na manipulação
dos alimentos. Um estudo realizado pelo FDA (agência reguladora
de alimentos e medicamentos nos
EUA) em 1997 mostrou que as
pessoas, ao prepararem alimentos em suas próprias casas, negligenciaram as práticas seguras de
manipulação em 99% das vezes.
Essas práticas incluíram lavagem das mãos, técnicas de preparação e armazenamento dos alimentos em temperaturas apropriadas e controle da contaminação cruzada (quando um alimento contamina o outro).
No Brasil, não há estudo semelhante, mas os especialistas dizem
que a situação é muito parecida.
"As pessoas sempre relacionam a
intoxicação alimentar à coxinha
ou ao presunto da padaria. Nunca
imaginam que o perigo esteja justamente na sua cozinha", afirma
Maria Teresa Destro, 43, professora do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP-SP.
Essa lição a dona-de-casa Maria
Custódio, 73, de Salvador (BA),
aprendeu. Ela ficou dez dias de cama e perdeu cinco quilos devido a
uma infecção intestinal causada
por feijão sem refrigeração.
"Dona Nita", como é chamada,
retirou o feijão da geladeira e o
deixou exposto a uma temperatura ambiente de mais de 30C por
cinco horas. Depois, voltou a esquentá-lo. Resultado: uma cólica
intensa no intestino e diarréia, seguidas de dois desmaios. "Foi a
pior dor que já senti", diz.
Embora não se lembre do agente causador da infecção, provavelmente dona Nita foi infectada pela bactéria Clostridium perfringens, que se multiplica quando
encontra temperatura acima de
10C. No entanto é a bactéria Salmonella a campeã invicta em número de surtos (leia texto lado).
Os números absolutos de casos
de contaminação por alimentos
no Brasil ainda estão longe de representar a realidade. Segundo
Maria Teresa, uma das razões é a
falta de notificação compulsória
das DTAs. Ou seja, nem sempre
que alguém procura um serviço
de saúde com infecção alimentar
a doença é notificada e investigada para saber, por exemplo, qual
foi o agente causador.
A confusão de números fica clara na comparação dos dados da
Opas e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo a primeira, 17.265 brasileiros foram vítimas das DTAs no
período de 1993 a 2001. Já a Anvisa informa que 20.542 pessoas se
intoxicaram com alimentos de
1999 a 2001.
Para o microbiologista Roberto
Martins Figueiredo, é essencial
que as pessoas adotem cuidados
higiênicos nas residências, especialmente na cozinha. "Cozinhar
ao lado do lixo, por exemplo, é a
coisa mais maluca", afirma, referindo-se às lixeiras que muitas
pessoas mantêm sobre a pia.
Figueiredo lançou na semana
passada um livro chamado "As
Armadilhas de uma Cozinha", em
que relata os cuidados que se deve
ter com os alimentos.
Alguns podem até parecer exagerados, como desinfetar a esponja e a tábua de carne com solução clorada e, depois de envolvê-los em papel-toalha, secá-los
no microondas. Essa prática reduziria a contaminação.
Para Maria Teresa, as dicas são
válidas, mas difíceis de serem praticadas no dia-a-dia. Ela diz que,
se ao menos os utensílios forem
lavados com água e sabão e mantidos secos, já se reduz o risco.
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