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MATERNIDADE
Ela conta que, nas consultas, os únicos procedimentos médicos eram a verificação da pressão e a pesagem
"Não me explicavam nada", afirma mãe
DA SUCURSAL DO RIO
Reni Pereira Mateus, 29, negra,
só conseguiu ser bem atendida na
segunda gravidez. Na primeira
gestação, ela se consultou e fez
exame pré-natal em dois hospitais públicos e chegou a procurar
uma clínica particular. Afirma ter
sofrido preconceito nos três.
Ela conta que, durante as consultas, os únicos procedimentos
médicos eram a verificação da
pressão arterial e a pesagem. Medição do tamanho do útero, do
peso do bebê, explicações sobre
alimentação, aleitamento materno e cuidados com o recém-nascido, Reni só soube o que eram
quando estava esperando Thaiane, a segunda filha, que tem um
mês de vida.
"Todos os médicos que me
atenderam pareciam estar sempre com pressa. Não me explicavam nada nem me atendiam direito", contou.
"No começo achei que era porque tinha muita gente para ser
atendida. Depois pensei que era
por eu ser pobre. Mas reparei que
as consultas das mulheres brancas, mesmo as das mais pobres,
eram bem mais demoradas e que
elas sempre saíam da sala do médico com algum papel de exame.
Eu nunca saí com um papel de
exame", reclama Reni.
Na segunda gravidez, finalmente conseguiu um bom tratamento.
Fez nove exames de pré-natal, assistiu a palestras e recebeu explicações para todas as dúvidas.
Érika Cristina Gonçalves, 22,
também negra, mesmo não tendo
uma gravidez de risco, decidiu
procurar o Instituto Fernandes
Figueira, especializado nesse tipo
de gestação, por ouvir histórias de
preconceito em outros hospitais e
maternidades. "Já tinha ouvido
falar de mulheres que não tinham
sido bem atendidas pelos médicos por serem negras. Então, decidi não arriscar".
Ela fez todas as consultas mensais necessárias à gravidez e exigiu
dos médicos os exames importantes para acompanhar o desenvolvimento do bebê. "Fiquei atenta, pedi tudo o que sabia que era
importante e perguntei sobre os
cuidados que tenho que ter com o
meu filho." Na hora do parto normal, entretanto, Érika não recebeu anestesia.
"Hoje, é um absurdo fazer parto
normal numa mulher sem lhe dar
anestesia. É obrigá-la a um sofrimento desnecessário", afirmou a
pesquisadora Silvana Granado.
Lucileide da Rocha Mendes, 18,
branca, é o exemplo do bom atendimento. Seu filho Deivison, de
um mês, nasceu de parto normal,
feito com anestesia.
Antes do parto, Lucileide passou por nove exames, quando teve o útero medido, o batimento
cardíaco do bebê auscultado e o
peso dela e do neném acompanhados. Também recebeu respostas para todas as perguntas.
"Antes do pré-natal, assistia às
palestras sobre gravidez e cuidados com o recém-nascido e participava de grupos de discussão sobre gravidez na adolescência."
Seu médico ligava de tempos
em tempos para a casa dela, para
saber como estava a gravidez.
Mulata
Rosângela Domingues Vieira,
32, que se classifica como mulata,
é exceção entre as demais gestantes negras entrevistadas. Grávida
de oito meses e meio, ela fez exames pré-natais desde o segundo
mês, quando soube que estava esperando um filho.
Por causa da idade e por sofrer
de pressão alta, ela teve de ser internada no Instituto Fernandes
Figueira para aguardar o dia do
parto do casal de gêmeos. Diferentemente de muitas outras mulheres na mesma situação, ela pôde ficar com um acompanhante
ao seu lado.
"Não tenho do que reclamar.
Fui muito bem tratada em todos
os exames de pré-natal. Os médicos fizeram tudo o que é preciso,
tiraram as minhas dúvidas e me
obrigaram a assistir palestras. Depois de internada, meu marido
pôde ficar o tempo todo ao meu
lado", contou.
(SP)
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