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INFÂNCIA
Número de interessados diminui com a idade: acima de 10, há para cada pretendente 66 aguardando família
Criança de 5 anos tem pouca chance de ser adotada
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para cada bebê disponível para
adoção, há 36 casais ou pessoas
interessadas em adotá-lo. Para cada criança de 2 a 5 anos, os pretendentes caem para cinco.
Daí para frente, interessados e
esperanças desaparecem bruscamente: acima de dez anos, existem 66 crianças e adolescentes para cada pretendente.
Na cidade de São Paulo, estima-se que haja cerca de 5.000 crianças
vivendo em abrigos. Cerca de
2.000 poderiam estar legalmente
prontas para serem adotadas.
A grande maioria já está na faixa
das "adoções tardias", acima de 2
anos de idade. Para essas, a cada
ano que passa, as chances de ganhar uma família se distancia de
forma inexorável.
Para a maioria delas, escapar da
mortalidade infantil não as livrará
da condenação a uma "meia vida"
em abrigos, sem referência familiar. A medida do tempo da criança, que a cada mês vê reduzidas
suas chances de adoção, não é a
mesma das instituições e da burocracia, que demoram anos para
disponibilizá-las.
É diante desse cenário hostil que
o país comemorou ontem, pela
primeira vez, o Dia Nacional da
Adoção. Já há boas notícias: em
oito anos, o número de grupos de
apoio à adoção e às famílias passou de 10 para 80.
O tema da adoção vem sendo
debatido nos encontros da Associação Brasileira de Magistrados
da Infância e da Juventude (Abraminj), como o que aconteceu no
mês passado, em São Paulo.
A organização dos grupos e um
envolvimento maior do Judiciário
e do Ministério Público se devem,
em muito, à atuação do Cecif,
uma ONG voltada para o incentivo e a capacitação de voluntários e
entidades que lidam e apoiam a
convivência familiar.
A pesquisa mostrando a relação
criança-pretendente foi realizada
pelo Cecif com informações de 28
grupos de apoio e Varas da Infância e da Juventude das regiões Sul
e Sudeste.
"A proposta não é apenas a adoção, mas a convivência familiar",
diz Gabriela Schreiner, diretora-executiva do Cecif.
Pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), toda criança
tem direito a um convívio saudável na sua família ou, na impossibilidade, em família substitutiva.
O abrigamento deve ser evitado,
mas é o recurso mais em uso.
Metade das crianças em abrigo
estão lá por miséria e poderiam
voltar para casa se houvesse uma
política pública de apoio às famílias. As outras, abandonadas, poderiam ser colocadas em adoção
mais cedo se juízes e promotores
tivessem "mais empenho e sensibilidade", diz Rodrigo Junqueira
Enout, presidente da Abraminj.
O juiz defende uma especialização da Justiça da Infância e da Juventude, como ocorre na Justiça
do Trabalho. "O magistrado da
Infância e da Juventude precisa de
especial preparo, jurídico e psicológico, e sensibilidade para com o
sofrimento humano."
A morosidade, que pode significar o fim das esperanças para a
criança, acaba sendo o preço para
garantir a proteção da mesma
criança, observa José Luis Alicke,
coordenador do Centro de Apoio
das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude. "Se não
houver extremo cuidado, poderão ocorrer recursos que levarão
anos e prejudicarão ainda mais o
encaminhamento dessa criança."
Mudança lenta
Apesar da ação dos grupos de
apoio, o perfil da criança esperada
ainda é a do bebê de cor branca.
Pela pesquisa do Cecif, 71% dos
pretendentes desejavam crianças
de 0 a 2 anos e apenas 1% entre 7 e
10 anos. Depois de participar dos
grupos, 65% levaram para casa
bebês de 0 a 2 anos; 8% ficaram
com crianças de 7 a 10 anos, e 4%
com crianças de 11 anos ou mais.
Informações sobre adoção, publicações e
grupos de apoio no www.cecif.org.br;
e-mail: cecif@uol.com.br
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