São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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foco

Arraial do prazer reúne atores e atrizes pornôs, exibicionista e voyeur

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A noiva seminua responde ao repórter de TV qual a diferença entre filme erótico e sacanagem: "Um é trabalho, coisa séria, o outro é diversão", diz a atriz Márcia Imperator. O repórter então aponta para uma foto de Daniel Dantas em uma revista e pergunta como ela classificaria os episódios que levaram o banqueiro a ser acusado por formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão e lavagem de dinheiro. "Ah, isso aí é putaria!"
Márcia está na festa de lançamento da produtora de filmes eróticos Exxclusive, anteontem, em uma boate da Vila Olímpia (zona sul). Dos 800 convidados do "Arraiá do Prazer", 200 eram atores pornôs.
Como tudo foi montado nos moldes de uma festa junina, a produção adaptou o ambiente com barraquinhas de pescaria, roleta e jogos de argola.
Na pescaria, os prêmios eram produtos como camisinhas, lubrificantes e algemas; na roleta, duas garotas em trajes sumários giravam uma roda em que se liam nomes de partes do corpo, como "boca", "pé", "bunda", "peito": o participante poderia beijá-las no local apontado, quando a roda parasse de girar; as argolas eram lançadas na direção de vários consolos de borracha, de forma a acertar seu eixo. A ficha custava R$ 2,50. "Garota de programa tem em qualquer balada, o legal daqui é que fica claro", afirma o personal trainer Leandro Gonçalves, 21.
A festa foi freqüentada principalmente por rapazes pós-adolescentes de boca aberta, marmanjos estilo "tigrão" e atores seminus com vasto currículo em filmes pornôs.
Contam-se poucas mulheres à paisana na fila de entrada. A curitibana Marilise Hickmann, 22, de passagem por São Paulo, diz que está ali a convite de uma prima que organizou a festa. Toda de preto, muito vestida para a ocasião, parece meio deslocada. "Estou tranqüila. Por enquanto não fui confundida", diz ela, que trabalha na área financeira.
O cenário apresenta elementos contrastantes. Enquanto o ator Poax, 23, 683 filmes, alisa descompromissadamente os seios da atriz Anne Portilla, 20, recém-introduzida no meio do cine-pornô, um casal de jovens "góticos" observa tudo sem sobressaltos. Alianças na mão direita, o técnico em contabilidade Bruno Penkal, 20, e a noiva, Karen Andrade, 18, muito brancos com roupas muito escuras, dizem com um ar meio entediado que "está tudo bem".
A estudante de rádio e TV Andréa Carolina, 19, não acha. "Tô perdidaça, não sabia que a festa era temática", diz ela, acompanhada de cinco amigas. Elas saem logo, rumo à boate Vegas, na rua Augusta. Andréa e as amigas dizem que "até têm uns bonitinhos aqui, mas quando eles vêm na nossa direção andando de perna aberta dá até medo".
André, 17, e Rodrigo, 18, não sentem falta do grupo de Andréa. "Cara, olha isso", dizem, às gargalhadas, com latinhas de cerveja na mão, olhando para a "performance erótica" de um casal de atores na pista de dança. O rapaz suspende a moça só de microssaia, sem a parte de cima, e a gira no alto.
Do outro lado das barracas eróticas, as de comida estavam às moscas. "Não vendemos uma espiga de milho até agora", diz Telma.
O dono da produtora, Salomon Jr., explica que a idéia é fazer filmes eróticos com acabamento de cinema.
"Queremos lançar dez títulos por mês", afirma ele. "O que mais vende é o que as pessoas chamam de "bizarrice", como uma senhora de idade transando com um garotão."
Segundo o presidente da Abeme (Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico), Evaldo Shiroma, o Brasil movimenta por ano R$ 800 milhões em produtos do gênero, 30% disso em filmes. "Há cerca de 10 produtoras nacionais, que realizam por ano, em média, 720 filmes", diz.


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