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foco
Arraial do prazer reúne
atores e atrizes pornôs,
exibicionista e voyeur
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A noiva seminua responde
ao repórter de TV qual a diferença entre filme erótico e sacanagem: "Um é trabalho, coisa séria, o outro é diversão",
diz a atriz Márcia Imperator.
O repórter então aponta para
uma foto de Daniel Dantas em
uma revista e pergunta como
ela classificaria os episódios
que levaram o banqueiro a ser
acusado por formação de quadrilha, gestão fraudulenta,
evasão e lavagem de dinheiro.
"Ah, isso aí é putaria!"
Márcia está na festa de lançamento da produtora de filmes eróticos Exxclusive, anteontem, em uma boate da Vila Olímpia (zona sul). Dos 800
convidados do "Arraiá do Prazer", 200 eram atores pornôs.
Como tudo foi montado nos
moldes de uma festa junina, a
produção adaptou o ambiente
com barraquinhas de pescaria,
roleta e jogos de argola.
Na pescaria, os prêmios
eram produtos como camisinhas, lubrificantes e algemas;
na roleta, duas garotas em trajes sumários giravam uma roda em que se liam nomes de partes do corpo, como "boca",
"pé", "bunda", "peito": o participante poderia beijá-las no
local apontado, quando a roda
parasse de girar; as argolas
eram lançadas na direção de
vários consolos de borracha,
de forma a acertar seu eixo. A
ficha custava R$ 2,50. "Garota
de programa tem em qualquer
balada, o legal daqui é que fica
claro", afirma o personal trainer Leandro Gonçalves, 21.
A festa foi freqüentada principalmente por rapazes pós-adolescentes de boca aberta,
marmanjos estilo "tigrão" e
atores seminus com vasto currículo em filmes pornôs.
Contam-se poucas mulheres à paisana na fila de entrada. A curitibana Marilise
Hickmann, 22, de passagem
por São Paulo, diz que está ali a
convite de uma prima que organizou a festa. Toda de preto,
muito vestida para a ocasião,
parece meio deslocada. "Estou
tranqüila. Por enquanto não
fui confundida", diz ela, que
trabalha na área financeira.
O cenário apresenta elementos contrastantes. Enquanto o ator Poax, 23, 683 filmes, alisa descompromissadamente os seios da atriz Anne
Portilla, 20, recém-introduzida no meio do cine-pornô, um
casal de jovens "góticos" observa tudo sem sobressaltos.
Alianças na mão direita, o técnico em contabilidade Bruno
Penkal, 20, e a noiva, Karen
Andrade, 18, muito brancos
com roupas muito escuras, dizem com um ar meio entediado que "está tudo bem".
A estudante de rádio e TV
Andréa Carolina, 19, não acha.
"Tô perdidaça, não sabia que a
festa era temática", diz ela,
acompanhada de cinco amigas. Elas saem logo, rumo à
boate Vegas, na rua Augusta.
Andréa e as amigas dizem que
"até têm uns bonitinhos aqui,
mas quando eles vêm na nossa
direção andando de perna
aberta dá até medo".
André, 17, e Rodrigo, 18, não
sentem falta do grupo de Andréa. "Cara, olha isso", dizem,
às gargalhadas, com latinhas
de cerveja na mão, olhando para a "performance erótica" de
um casal de atores na pista de
dança. O rapaz suspende a moça só de microssaia, sem a parte de cima, e a gira no alto.
Do outro lado das barracas
eróticas, as de comida estavam
às moscas. "Não vendemos
uma espiga de milho até agora", diz Telma.
O dono da produtora, Salomon Jr., explica que a idéia é
fazer filmes eróticos com acabamento de cinema.
"Queremos lançar dez títulos por mês", afirma ele. "O
que mais vende é o que as pessoas chamam de "bizarrice",
como uma senhora de idade
transando com um garotão."
Segundo o presidente da
Abeme (Associação Brasileira
de Empresas do Mercado Erótico), Evaldo Shiroma, o Brasil
movimenta por ano R$ 800
milhões em produtos do gênero, 30% disso em filmes. "Há
cerca de 10 produtoras nacionais, que realizam por ano, em
média, 720 filmes", diz.
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