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FOGO NO CHÃO
Mato Grosso é campeão de registros; no país, queima de vegetação é pior que poluição industrial para efeito estufa
Estados quebram recorde histórico de queimadas
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
Setembro ainda não terminou,
mas os Estados de Mato Grosso e
Rondônia, mais o Distrito Federal, com dados somados até ontem, já haviam quebrado o recorde histórico de registro de queimadas para esta época do ano.
A situação, que já era grave em
agosto, piorou neste mês. As
emissões de fumaça com a queima sufocam cidades, afetando a
saúde da população e contaminando o ambiente.
Mato Grosso, onde vigora desde
julho uma portaria proibindo as
queimadas, é o campeão nacional
de registros de fogo. Em 23 dias,
foram detectados 19.944 focos de
calor, pontos extremamente
quentes captados por satélite, em
território mato-grossense.
Além de ser o recorde para um
mês de setembro desde 1999,
quando começou a série histórica,
também é o maior número de
pontos de queimada já registrado
em todos os tempos, no comparativo dos totais mensais, no país.
"As intempéries da natureza estão se manifestando no mundo
todo, e no Brasil não é diferente. O
clima está muito seco. Em São
Paulo estamos com um problema
grave de concentração de fumaça.
Em Mato Grosso, o avanço dos focos está intimamente ligado ao
aumento da atividade agrícola,
que vem com o desenvolvimento
econômico. Infelizmente, o fogo
ainda é ferramenta de trabalho
para a abertura de roças", declarou Romildo Gonçalves, coordenador em Mato Grosso do Prevfogo/Ibama.
O que tem preocupado mais os
ambientalistas é o avanço dos incêndios para dentro de áreas da
Amazônia. No Acre e no Amazonas, os índices de focos de fogo
em setembro só não são piores
que os registrados em 2002, mas,
até o final do mês, é possível que
haja um novo recorde negativo.
"Há uma migração muito grande de grileiros para o sul do Amazonas. Áreas gigantescas estão
sendo desmatadas e, em seguida,
sofrendo com as queimadas que
trazem impactos diversos para o
ambiente. É um quadro chocante.
Como o Estado é muito grande,
acaba recebendo pouca atenção
nas discussões sobre o avanço do
desmatamento", disse Phipplip
Fearnside, pesquisador do Inpa
(Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia).
A Secretaria do Meio Ambiente
do Acre chegou a fazer um apelo
para que os Estados vizinhos e a
Bolívia parem imediatamente
com as queimadas, que estão sufocando a população no Estado.
"O deslocamento das massas de
ar do Sul e Sudeste para o Norte,
que periodicamente trazem frio
para o Acre, agora estão transportando a fumaça. Todo ano isso
acontece, mas neste ano a situação está insuportável", afirmou o
secretário Carlos Edgar de Deus.
Em Tocantins, duas importantes unidades de conservação,
áreas protegidas por lei em razão
de suas diversidades de fauna e
flora, estavam com vegetação nativa em chamas até ontem: o Parque Nacional do Araguaia e a Estação Ecológica Serra Geral do
Tocantins. Brigadistas do Ibama
estavam combatendo as chamas.
De acordo com o pesquisador
do Inpe Alberto Setzer, o Brasil
contribui mais para mudanças
climáticas e para o efeito estufa
com a emissão de fumaça de queimadas do que com a poluição da
atividade industrial.
Comparando apenas os dados
de setembro do ano passado, as
queimadas já são registradas em
maior número também nos Estados de Alagoas, Amapá, Mato
Grosso do Sul e Tocantins.
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