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VIOLÊNCIA
Autoridades denunciam envolvimento policial em grupos de extermínio no Nordeste; acusados negam participação
Promotora ameaçada pede ação federal
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MOGEIRO (PB),
PEDRAS DE FOGO (PB) E ITAMBÉ (PE)
Grupos de extermínio que agem
na divisa da Paraíba com Pernambuco são exemplo de suposto
envolvimento de policiais com o
crime organizado e da impotência
de autoridades que têm interesse
em coibir a ação dos criminosos.
A promotora pública de Itambé
(PE), Rosemary Souto Maior de
Almeida, 44, é um exemplo dessa
"impotência oficial". Ela já denunciou os grupos de extermínio
na Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). Hoje vive com escolta policial 24 horas por dia.
Com 43 processos de homicídios parados por falta de investigação policial, Rosemary diz: "Já
fizemos tudo o que era possível.
Agora, só uma força-tarefa federal
para conter os crimes e os grupos
de extermínio".
De 1999 a 2002, mais de cem
pessoas foram "justiçadas" nos
municípios paraibanos de Mogeiro, Alhandra, Juripiranga e Pedras de Fogo e nos pernambucanos de Timbaúba, Goiana e Itambé. A divisa facilita a ação dos grupos: os mortos de um Estado são
desovados (jogados) em outro.
Policiais civis como Sérgio de
Souza Azevedo, 41, e Marcelo Jorge Pereira, 42, e PMs como o ex-sargento Manoel César de Albuquerque, "o cabo César", são acusados na CPI da Violência do
Campo, da Assembléia Legislativa da Paraíba, de ser líderes dos
grupos de extermínio na região.
O deputado estadual frei Anastácio Ribeiro (PT-PB), 58, que
presidiu essa CPI (maio a dezembro de 2001) diz que esses líderes
agiam "e agem acobertados" pelo
ex-secretário de Segurança Pública da Paraíba Francisco Glauberto Bezerra e pelo ex-procurador-geral de Justiça Júlio Paulo Neto."É evidente que existia essa cobertura, senão não haveria tamanha impunidade", diz Ribeiro.
Bezerra é hoje procurador de
Justiça no Ministério Público da
Paraíba e Paulo Neto é desembargador no Tribunal de Justiça.
As vítimas preferenciais desses
grupos são menores infratores,
marginais de pequenos delitos,
homossexuais e trabalhadores rurais, sejam sem-terra ou trabalhadores que ingressam em ações
trabalhistas contra usineiros e
plantadores de cana-de-açúcar.
O surgimento desses grupos
após 1997 sugere uma mistura de
interesses públicos e privados e a
ausência efetiva do Estado.
O empresário Severino Ramos
Pereira, 51, de Itambé (PE) admite
que, em 1996, forneceu passagens
aéreas e auxílio financeiro para
que policiais de Pedras de Fogo e
Itambé -municípios separados
por uma avenida- fossem a São
Paulo para buscar e prender os assassinos de seu filho Welveson
Luiz Pereira, então com 18 anos,
morto numa tentativa de assalto.
"Nena da Casa do Construtor",
como Pereira é conhecido, nega a
ajuda a grupos de extermínio. Segundo ele, as estruturas policiais
são pobres e "precisam do apoio
de quem tem mais recursos".
Outro lado
Marcelo Jorge Pereira e Sérgio
de Souza Azevedo negam envolvimento com os grupos de extermínio e acusam os deputados petistas Luiz Couto (federal) e frei
Anastácio Ribeiro (estadual) de
perseguição política. "É tudo calúnia desses falsos padres e vou
provar", afirma Azevedo.
Pereira admite que responde a
processo criminal por co-autoria
na morte de oito presos, em 1999,
no episódio que ficou conhecido
como a "chacina de Alhandra".
Em 13 de março daquele ano,
um grupo liderado pelo então sargento reformado da PM Manoel
César de Albuquerque invadiu a
delegacia de Alhandra e matou oito presos. O objetivo era vingar a
morte de um policial militar.
À época, Pereira, então delegado de Pedras de Fogo, foi acusado
de fornecer armas da delegacia
para o crime. "É uma acusação
mais que ridícula", afirma.
Pereira diz que nunca liderou
grupo de extermínio e que "as
acusações levianas partem de um
vereador de Itambé (PE), em busca de prestígio político". O vereador Manoel Mattos (PT) denunciou Pereira como integrante do
grupo de extermínio na CPI da
Violência do Campo da Assembléia Legislativa da Paraíba.
Azevedo diz que as acusações
contra ele começaram depois que
impediu que sem-terra ligados à
CPT (Comissão Pastoral da Terra) invadissem uma área que arrendou em Mogeiro.
Tanto Azevedo como Pereira
negam as acusações de frei Anastácio de que seriam protegidos
pelo ex-secretário de Segurança
da Paraíba Francisco Glauberto
Bezerra e pelo hoje desembargador Júlio Paulo Neto.
O procurador de Justiça Francisco Glauberto Bezerra, do Ministério Público da Paraíba, não
foi encontrado. Ele está de licença
médica, segundo a assessoria do
órgão. Publicamente, Bezerra
sempre negou as acusações do deputado frei Anastácio Ribeiro.
Na sexta-feira, o desembargador Júlio Paulo Neto estava no interior da Paraíba. Contatado por
telefone, não retornou aos telefonemas da reportagem.
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