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SAÚDE
Estudos avaliaram benefícios da reposição hormonal para menopausa em mulheres saudáveis e sem sintomas
Hormônio não melhora humor feminino
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vêm aí dois novos estudos para
serem colocados na balança na
hora de a paciente decidir fazer a
terapia hormonal.
Os trabalhos, prontos para publicação em revistas científicas,
têm o foco nos possíveis benefícios psicossociais: indicam que a
reposição hormonal não previne
quadros depressivos e problemas
de cognição ou tem efeitos significativos em mulheres saudáveis e
com poucos ou nenhum sintoma
da menopausa.
Resumindo: nesses casos, gastar
com os remédios é bobagem.
"Nossa pesquisa mostrou que,
para essas mulheres saudáveis e
com pouco ou nenhum sintoma
da menopausa, o hormônio, na
prática, tem o mesmo resultado
de uma pílula de farinha, que usamos para comparar com o remédio", diz o psiquiatra Joel Rennó
Júnior, coordenador do Projeto
de Atenção à Saúde Mental da
Mulher do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas da USP.
Ele é o autor de uma tese de doutorado sobre reposição com estrogênio em 59 mulheres que será
publicado na revista norte-americana "Menopause".
Pesquisadores do WHI (Women's Health Initiative), megaestudo com mais de 16 mil mulheres
patrocinado pelo governo dos
EUA, foram além, mas na mesma
trilha, em trabalho que será publicado no próximo mês no "New
England Journal of Medicine".
Ao estudarem a combinação do
mesmo tipo e dosagem de estrogênio (estrogênio conjugado
equino, 0,625 mg/dia) com um tipo de progestogênio (acetato de
medroxiprogesterona, 2,5 mg/
dia) sobre as condições psicossociais da mulher, chegaram a uma
conclusão polêmica sobre ganhos
na qualidade de vida. "Não houve
efeito significativo da combinação na saúde geral, limitações físicas e emocionais, vitalidade, habilidades sociais, saúde mental, sintomas depressivos ou satisfação
sexual", dizem no trabalho.
"Mulheres que vêm usando o
estrógeno há muito tempo só para efeito preventivo em relação à
saúde mental devem discutir com
seus médicos. Aquelas mais jovens que pensam em iniciar o tratamento também devem ter cautela", diz o diretor de pesquisa clínica do Centro de Saúde Mental
da Mulher da Harvard Medical
School (EUA), Cláudio N. Soares.
Hormônios e humor
O estrogênio já demonstrou, em
pesquisas in vitro (com células) e
com animais, ter uma ação antidepressiva e sobre a cognição. Ele
age sobre neurotransmissores
(substâncias que fazem a comunicação das células cerebrais) como
a serotonina e a acetilcolina, que
participam desses processos. O
hormônio também tem o poder
de alterar o núcleo de células cerebrais, modificando a secreção de
enzimas que facilitam a síntese
desses neurotransmissores. Daí o
interesse em verificar seus efeitos
em estudos com pessoas.
As mulheres do estudo de Rennó Júnior eram atendidas em três
centros médicos de São Paulo. A
escolha das que iriam tomar placebo (a pílula de farinha, inócua)
e das que tomariam hormônio foi
aleatória e nem médicos ou pacientes sabiam o que cada grupo
estava tomando. A menopausa tinha ocorrido há pelo menos dois
anos e no máximo há dez anos,
não tinham o útero, em razão de
doenças não-malignas, e relatavam poucos ou nenhum episódio
de fogacho, as ondas de calor.
A medicina não tem provas de
que a menopausa cause problemas psiquiátricos. Nenhuma das
pacientes tinha uma doença mental, como depressão, mas queixas
depressivas, como tristeza, desânimo, e de memória ruim, por
exemplo. Foram acompanhadas
por cerca de seis meses, com a
aplicação de uma série de testes
para avaliar suas condições.
A escolha de mulheres sem
doenças e poucos ou nenhum sintoma ocorreu para evitar inferências nos resultados, afirmou Rennó Júnior. Isso porque o fogacho
leva a uma série de alterações psicossociais, como desânimo e irritabilidade.
"Antes achávamos que dando
hormônio protegeríamos mulheres saudáveis de problemas no coração. Agora, entende-se que não.
Parece que o mesmo processo se
repete agora em relação ao cérebro", diz o professor-adjunto de
ginecologia do Hospital das Clínicas, Hans Halbe.
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