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DANUZA LEÃO
Brizola
Conheci o engenheiro em
priscas eras. Acompanhei
-como todos os brasileiros que
já eram "gente" naquela época
-as diversas fases de sua vida, e
sempre que Brizola foi candidato,
votei nele. OK, ele cometeu erros
que eu reconheci, mas jamais
consegui votar em outra pessoa,
se ele estivesse na disputa. Eu e
tantos outros: éramos os tais brizolistas doentes.
Via Brizola raramente, mas me
lembro nitidamente de alguns encontros que tivemos nos últimos
anos. Dos dois últimos, sobretudo.
Era o casamento do filho do político mineiro José Aparecido de
Oliveira, em Conceição do Mato
Dentro, interior de Minas, e fui
convidada a viajar no jatinho que
levaria, entre outros, Mario Soares e Leonel Brizola.
Embarcamos em torno das 13h;
durante o vôo, os dois políticos cochicharam muito num cantinho e
depois se juntaram aos outros.
Brizola, sempre simpático, abriu
uma sacola de mão e tirou dela
um misterioso saquinho de plástico transparente. Abriu, com dificuldade, o primeiro nozinho, que
estava bem apertado; sem parar
de conversar, desatou o segundo
nó, também muito apertado, depois o terceiro e enfim o último,
para alívio geral.
Fingíamos prestar atenção à
conversa, mas estávamos ligados
ao que fazia o ex-governador, que
era abrir o saquinho só no tato,
sem olhar.
Quando terminou a tortura, ele,
sempre galante, ofereceu aos presentes e explicou: eram pedaços
de pé-de-moleque que levava
sempre que viajava, costume adquirido nas campanhas políticas,
no caso de chegar a algum lugar e
não encontrar nada para comer.
Passaram-se uns dois anos, até
eu rever Brizola -e pela última
vez. Estávamos no mesmo avião
indo a Brasília para a posse de
Lula e fomos conversando. Conversando é modo de dizer: só Brizola falava -como sempre,
aliás-, e eu mal conseguia colocar uma palavra. Mas tinha que
me esforçar, pois era uma oportunidade de ouro de saber algumas
opiniões do político gaúcho.
Quando consegui uma brecha,
perguntei o que ele achava do governo que tomaria posse no dia
seguinte. Ele respondeu devagar,
fazendo grandes pausas -como
sempre-, e disse que o que vinha
por aí seria quase uma ditadura.
E ainda acrescentou: uma ditadura stalinista.
Cheguei a pensar que Brizola
não estava batendo bem. Que história era essa?
O PT, com Lula tão simpático,
ia ser quase uma ditadura? Ele estava convicto -como sempre- e
terminou dizendo "comece a
prestar atenção".
Querendo aproveitar aquele
momento único, usei de uma intimidade que eu me achava com
direito a ter, já que nos conhecíamos havia tantos anos, e disse:
"Governador, mas o senhor às vezes inventa umas pessoas, francamente. E o casal Garotinho/Rosinha, ela agora eleita governadora, no que isso vai dar?"
Brizola me olhou em silêncio
por uns momentos -ele sempre
pensava antes de responder- e
disse: "Olha, Danuza, ela é muito
pior do que ele".
Que pena: nunca mais vou poder votar em Brizola.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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