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URBANISMO
Área de ocupação recente ainda não aparece no mapa da cidade; água e luz só foram instaladas há dois anos
Correio não chega a CEU no extremo de SP
DA REDAÇÃO
O carro corta as ruas estreitas
do Jardim Vista Alegre, na zona
norte de São Paulo, às 15h de uma
quinta-feira. As casas grudadas
umas nas outras formam uma
trama urbana espremida em que
mal sobra espaço para a circulação de gente e de veículos.
A praça de recreação do centro
de convivência comunitário é um
dos poucos lugares em que o aglomerado urbano tem um respiro.
O local está repleto de crianças,
numa indicação de que elas não
têm muitas opções de lazer. "Aqui
há crianças em penca", comenta
um morador.
O destino é outro porém
-mais ao norte e ao alto. Há que
seguir as orientações dos moradores porque é inútil procurá-las
no guia. O local aonde se vai não
consta da cartografia da cidade.
Escola
A travessia de uma ponte precária, que, mesmo sendo de concreto, lembra uma pinguela, marca a
chegada ao Jardim Paraná. Começa-se a subida em direção ao
CEU Paz. Os Centros Educacionais Unificados são um modelo
de escola adotado na gestão petista em São Paulo. São equipados
com coisas que normalmente não
se vêem na periferia -teatro, piscina, centro de informática.
A avenida Ayrton Senna, que
também não consta do mapa, é de
terra batida, íngreme e estreita.
Outras vias remetem a nomes de
pássaros (rua dos Canários, travessa Beija-Flor). Nisso lembra
Moema, distrito paulistano de
maior qualidade de vida, na zona
sul, que tem ruas com nomes de
pássaros (Cotovia, Rouxinol).
O paralelo termina aí. O Jardim
Paraná tem apenas dez anos e está
em área de alta exclusão social.
Ocupa um trecho no início da serra da Cantareira onde antes havia
uma fazenda e um clube. Conseguiu água e energia elétrica há
apenas dois anos e ainda está em
processo de regularização. Apesar
de estar na serra, não é área de
proteção ambiental.
O moderno e multicolorido
CEU Paz, instalado no alto, contrasta com a precariedade e com a
aparência ocre da região. Mas está
inserido no seu contexto urbano.
Nenhum endereço no Jardim Paraná -nem mesmo o do CEU-
recebe correspondência na porta.
As cartas são todas enviadas à associação de moradores.
A escola rica, inaugurada em
maio último, causa impacto na região. As casas estão valorizadas.
Parentes de moradores se mudam
para o local para poder estudar no
centro escolar municipal.
Em um local de desemprego alto, moradores são recrutados para trabalhar em tarefas de limpeza
e de cozinha do CEU. Há um posto da Guarda Civil Metropolitana
e nota-se uma presença mais
constante da Polícia Militar.
Um outro acesso ao Jardim Paraná, que leva à escola da prefeitura, foi asfaltado. A estigmatização
territorial vai se desfazendo. Moradores do vizinho Jardim Vista
Alegre perderam o medo de subir
ao Jardim Paraná. Professores de
classe média passaram a trabalhar
na área antes malvista.
Integração
O impacto espacial tem abrangência ainda maior se for levado
em conta que o CEU abriga o primeiro teatro dos distritos da Brasilândia e da Freguesia do Ó, segundo informação da prefeitura.
Pelo contraste arquitetônico, o
centro da prefeitura parece uma
espaçonave pousada na periferia.
A integração, contudo, foi rápida.
"A comunidade cuida. Viu que o
CEU é do bem", diz a diretora Vera Lúcia Apolinário Borges.
O morador da São Paulo bem
estruturada dificilmente se depara com um CEU. Eles foram intencionalmente instalados em
áreas de alta exclusão social, em
regra segregadas territorialmente.
"Os CEUs levam qualidade territorial a regiões alijadas da oferta
de serviços públicos e da presença
do Estado", faz questão de ressaltar a secretária municipal da Assistência Social, Aldaíza Sposati.
O Mapa da Vulnerabilidade Social, pesquisa do CEM-Cebrap encomendada pela Secretaria da Assistência Social, permite a classificação detalhada do território paulistano, levando em consideração
indicadores como renda, escolaridade e presença de jovens.
"Quando é feita a transposição
dos CEUs para esse mapa, verifica-se a localização em áreas com
forte demanda por serviços públicos", afirma a pesquisadora Dirce
Koga, integrante do Núcleo de Seguridade e Assistência Social da
PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica).
Um outro mapa, o da Exclusão/Inclusão Social, produzido
por pesquisadores da PUC, foi
uma das fontes que orientaram a
instalação dos CEUs no espaço
urbano paulistano, informa Koga.
Ainda no que se refere a demandas não atendidas, Koga ressalta
que os centros da prefeitura inovam sobretudo porque vão contra
o procedimento historicamente
arraigado de oferecer serviço público ruim aos pobres.
(EDNEY CIELICI DIAS)
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