|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PATRIMÔNIO
Construção é semelhante à do aqueduto da Lapa, cartão-postal do Rio
Floresta guarda aqueduto de 300 anos
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Ambientalistas que percorriam
as matas da Colônia Juliano Moreira (unidade de tratamento psiquiátrico na Taquara, zona oeste
do Rio) localizaram, coberto pela
mata atlântica, um aqueduto de
cerca de 3 km de extensão de quase 300 anos. A descoberta é preciosa por causa da raridade arquitetônica da construção.
O bom estado de conservação
do aqueduto o torna único na
América do Sul, de acordo com o
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
Ele foi construído por escravo no
século 18, para levar água a um
engenho de cana-de-açúcar.
Os técnicos do Iphan estão entusiasmados. Eles já realizaram
três vistorias após a descoberta do
aqueduto, esquecido em meio à
floresta fechada, em área administrada pela Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz).
Em relatórios encaminhados à
6ª Superintendência Regional do
Iphan -responsável pelos Estados do Rio e do Espírito Santo-,
os técnicos José Grevy Alves (arquiteto) e João Carlos Gomes
(biólogo e arqueólogo) sugerem o
tombamento do aqueduto.
Até a descoberta, em 3 de março
de 2002, só era conhecido, e tombado pelo Iphan em 1958, o trecho
final do aqueduto, construção nos
moldes dos arcos da Lapa, um dos
cartões-postais do Rio. Sete arcos
resistem ao abandono e à falta de
conservação. Originalmente,
eram nove. Dois desmoronaram.
A diferença entre os dois aquedutos é que, no da Lapa, não houve a preservação da rede de captação da água que abastecia o centro
do Rio no século 18. A proteção da
natureza propiciou que a construção similar da Juliano Moreira se
mantivesse a salvo do crescimento urbano. Um terceiro aqueduto,
o do Catumbi (bairro na região
central), do mesmo período dos
demais, já foi destruído.
Segundo os relatórios dos técnicos do Iphan, o chamado "aqueduto dos psicopatas" foi construído em seguida à inauguração do
da Carioca (os arcos da Lapa são
seus remanescentes), em 1723.
Construir um aqueduto foi o
modo encontrado pelo comendador Antônio Telles de Menezes,
dono de terras no Rio à época, de
irrigar a fazenda da Taquara, onde tinha o engenho de Nossa Senhora dos Remédios, com plantações de cana-de-açúcar.
Com a decadência do ciclo açucareiro, por volta de 1730, a fazenda foi sendo aos poucos abandonada, o aqueduto deixou de ser
usado, o mato cresceu em volta e a
obra permaneceu escondida por,
pelo menos, 150 anos.
Após a descoberta da relíquia
setecentista, os próprios ambientalistas, liderados pelo presidente
da ONG (organização não-governamental) SOS Floresta da Pedra
Branca, Adilson Antônio de Lacerda, retiraram parte do mato
que cobria 70% dos cerca de 3 km
entre os arcos e o ponto de captação da água, em um açude ao lado
da cachoeira do Engenho Novo, a
60 m de altitude.
Trechos que somam cerca de 1
km não puderam ser limpos. Estão aterrados ou foram construídos barracos e casas sobre os canaletes. A floresta onde fica o
aqueduto está há cinco anos sob a
administração da Fiocruz. No terreno de 5 milhões de metros quadrados, a fundação planeja instalar o campus de Jacarepaguá.
Do açude aos arcos, a água seguia por canaletes de 60 cm de
profundidade por 40 cm de largura, com paredes de pedra e piso de
cerâmica. Os canaletes são ladeados por um calçamento formado
por blocos de pedra maciça, que
descem pela montanha até os arcos. É essa espécie de caminho em
meio à floresta que forma o conjunto arquitetônico em avaliação
para tombamento pelo Iphan.
A natureza protegeu o aqueduto
por muito anos. O homem não está sendo tão cuidadoso. Os canaletes têm sido pisoteados durante
cavalgadas e aterradas para a
construção de barracos e casas.
Agrava a situação o fato de morarem na área administrada pela
Fiocruz cerca de mil pessoas de
uma comunidade carente surgida
na colônia há décadas.
O local apresenta precárias condições de saneamento. Não há rede de esgoto. As valas negras correm a céu aberto. A captação de
água é a mesma de cem anos
atrás. Os canos apodreceram.
A Fiocruz informa que só permite a entrada na área de moradores e convidados. Mas costumam ocorrer no terreno cavalgadas batizadas de ecológicas. Como os canaletes ficaram expostos
a partir da limpeza do terreno, os
cavaleiros usam trechos do aqueduto como trilha.
Texto Anterior: Há 50 anos: EUA solicitam nova assembléia Próximo Texto: Descobridor já recebeu ameaça de caçadores Índice
|