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No Rio, doente é preso após agressão
DA REPORTAGEM LOCAL
No início de janeiro, o cunhado
de Valéria Magalhães Vieira Souza, 39, sofreu uma crise por não
obter remédios básicos para o tratamento da esquizofrenia. A falta
de medicamentos, banal em postos de saúde de todo o país, tornou-se um caso de polícia.
"Tentamos levar ao hospital,
chamamos a Defesa Civil, não
conseguimos ajudar. Ele correu
para a rua, com uma bucha com
álcool na mão, jogou no vizinho e
acendeu o isqueiro", conta Souza,
que abrigava o cunhado em sua
casa em Nova Iguaçu, na Baixada
Fluminense, região metropolitana do Rio. "É um problema sério.
Ninguém toma responsabilidade.
Ele acabou preso." O vizinho teve
sérias queimaduras, relata, e até
hoje necessita de plásticas.
O cunhado toma três remédios
por dia, com os quais a família
gasta quase R$ 100 por mês, por
não encontrá-los na rede pública.
"Vivo com meus problemas e os
dos outros", afirma Lidia Moreno, 52, que representa familiares
de pacientes da Baixada Fluminense. Moreno "centraliza" pedidos das famílias de pacientes da
região, como a de Souza. Na prática, coleciona casos, por não haver
solução para grande parte deles.
Há dias em que busca pelo bairro
um comprimido "emprestado"
para alguém sem remédio. "Virei
uma ONG ambulante."
A preocupação mais recente é
com relatos de ameaças, feitas por
traficantes, a doente mentais. As
crises, que deveriam ser atendidas
por um serviço médico, acabam
trazendo a polícia para as favelas,
o que desagrada os donos dos
pontos de droga.
Sobre o caso do paciente que
acabou preso, Moreno se declara
revoltada. "A culpa é dele ou dos
governos, que não dão os medicamentos?"
(FL)
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