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ENTREVISTA
Procedimento evita que as placas de gordura migrem para o cérebro
Filtro de sangue pode prevenir AVC
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um aparelho combinado a um
minúsculo filtro de sangue está
sendo apontado como a alternativa mais segura para a remoção de
placas de gordura na artéria carótida interna, que podem levar ao
derrame cerebral ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), terceira
maior causa de morte no Brasil.
A cirurgia de remoção de placa
costuma ser a melhor opção de
tratamento quando a carótida,
um dos principais vasos que irrigam o cérebro, fica estreitada por
aterosclerose.
Segundo o médico radiologista
vascular Antônio Kambara, 53,
do Hospital do Coração e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, ambos em São Paulo, o filtro impede que restos da placa de
gordura, que se desprendem durante a implantação do aparelho
-chamado stent-, sigam para o
cérebro, provocando o AVC.
Kambara realizou o procedimento durante uma videocirurgia exibida em congresso de cardiologistas, que terminou anteontem em São Paulo. A seguir, os
principais trechos da entrevista
dada pelo médico à Folha.
Folha - Como se trata o entupimento das artérias carótidas?
Antonio Kambara - O tratamento
tradicional para o entupimento
da carótida é uma cirurgia chamada endarterectomia. Corta-se
a região do pescoço, abre-se a artéria, limpa e costura. Hoje, temos
um novo método, chamado endovascular, que é minimamente
invasivo. Fazemos um pequeno
corte pela perna e, por dentro da
artéria, com um canudinho, caminha-se até o objetivo. Inicialmente, durante essa desobstrução
da artéria, aqueles fragmentos de
gordura podiam se soltar dentro
da circulação e ir para o cérebro e,
dependendo do lugar, entupir e
levar ao AVC. Recentemente surgiram mecanismos que evitam
que esses fragmentos se soltem
para dentro do cérebro. Um deles
é o filtro de proteção, que temos
usado com excelentes resultados.
Folha - Como funciona esse filtro?
Kambara - Esse filtro é uma minúscula cestinha, como se fosse
um guarda-chuva. Ele permite
que o sangue, que é mais fluído,
passe por dentro dele, enquanto
os fragmentos de gordura ficam
retidos, como se fosse um filtro de
café. Aí nós colocamos um suporte metálico [stent], parecido com
uma molinha, para manter a artéria aberta e restabelecer o fluxo
sanguíneo. Uma vez desobstruída
a artéria, o guarda-chuva é fechado e retirado.
Folha - Qual a vantagem desse
procedimento? Ele está disponível
na rede pública?
Kambara - Essa técnica é aprovada pelo SUS. Nos serviços credenciados, isso é disponível. A grande
vantagem é evitar o risco do derrame porque ele não deixa passar
as placas de gordura. Nós não estamos curando a doença, mas sim
o risco de derrame. Mesmo após
esse procedimento, os vasos podem voltar a entupir. Essa é uma
doença degenerativa, que vai depender os fatores de risco que levam à obstrução das artérias.
Folha - Qual é o índice de reincidência do entupimento após esse
procedimento?
Kambara - Com o stent, a reincidência é relativamente baixa.
Ocorre em torno de 7% a 10%.
Com a cirurgia, é um pouco acima, cerca de 15% a 20%. Mas ainda não tem um protocolo bem estabelecido.
Folha - Para quem está indicado o
procedimento?
Kambara - Temos preferido usar
em pacientes de alto risco. Aqueles que já têm uma doença cardíaca básica, ou que já foram tratados em razão do estreitamento da
artéria, os idosos ou os que têm
um pescoço muito curto.
"A grande vantagem
é evitar o risco
do derrame porque
ele não deixa passar
as placas de
gordura. Nós não
estamos curando
a doença, mas
sim o risco
de derrame"
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