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No Rio, tráfico vende o crack já misturado com a maconha
Droga causa aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos; baixa a temperatura e faz as pupilas aumentarem
Chamada de zirrê, a droga é consumida até nas praias da zona sul carioca. Usuários trocam informações sobre o seu preparo pela internet
FLAVIA WERLANG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Uma nova droga está sendo
vendida no Rio de Janeiro: o
zirrê, mistura de maconha com
crack, também chamada de
mesclado ou craconha.
O nome zirrê vem de uma referência às cabeçadas do ex-jogador de futebol francês Zinedine Zidane e uma derivação da
palavra francesa désir (desejo).
A droga avança pelas areias
da praia de Ipanema, na zona
sul, e ganha comunidades em
sites de relacionamento, nas
quais os usuários compartilham os modos de preparo. O
próprio consumidor pode preparar o zirrê, depois de comprar, separadamente, a maconha e o crack.
O coquetel surgiu para suprir
um vazio no mercado. "Em todo tipo de comércio, existe um
vácuo a ser explorado. Quando
um grande conglomerado de
lojas surge, uma velha multimarcas obsoleta é absorvida e,
no lugar, surge um novo espaço
a ser desbravado. Com as drogas, não é diferente. O zirrê surge no mercado de drogas "entrantes'", afirma o psiquiatra,
especialista em dependência
química, Jorge Jaber.
O delegado titular da Delegacia da Delegacia de Combate às
Drogas, Marcus Vinícius Braga,
tem a mesma opinião: "Traficante é criativo para manter a
clientela. Eles arranjam sempre uma mistura nova para
chamar a atenção".
Por ser uma droga que pode
ser preparada pelos próprios
usuários, a partir de outras
duas já existentes no mercado,
a polícia não tem números de
apreensão de zirrê. "Eu subia o
morro para comprar maconha
e escutava as outras pessoas pedindo zirrê. Até que perguntei o
que era" conta R. P., 24 anos.
No Orkut, experiências são
compartilhadas sem pudor.
"Esta comunidade foi criada
para aqueles q gostam de fumar
um zirrê. Pra quem não sabe o q
é, zirrê é uma mistura de boldo
(maconha) com crack. É a mais
nova onda do Rio ..." diz uma
dessas páginas na internet.
Para os especialistas, as chamadas "dependências cruzadas", ou seja, o uso de duas ou
mais drogas simultaneamente,
são as mais perigosas. "Porque
não temos idéia de quantos receptores são estimulados ao
mesmo tempo. Uma potencializa o efeito da outra. É o que
ocorre com o zirrê", explica o
psiquiatra Jairo Werner.
A procura por esta novidade
tem uma explicação: "O crack
causa mais euforia quando fumado junto com a maconha do
que inalado. Ele entra em contato com o sangue rapidamente
logo no primeiro minuto", diz.
Entre os sintomas dos usuários estão: aumento da pressão
arterial e dos batimentos cardíacos, baixa a temperatura,
aumento da pupila, face avermelhada e diminuição do apetite. "Os pacientes aparecem
com quadros de esquizofrenia,
paranóicos, com manias de
perseguição e medos sem motivo aparente"", alerta Werner.
Ele compara o vício ao aprendizado de uma nova língua.
"Quando a pessoa se vicia, cria
uma rede de neurônios contínua para dar significado àquela
droga. Quando ela pára de usar,
a rede continua lá e é estimulada quando existe alguma referência que a estimule novamente, como alguma lembrança que cause sensação de prazer", diz o médico.
A solução, segundo o especialista, é o paciente e o familiar
aprenderem uma "nova"" língua para não caírem no mesmo
círculo vicioso.
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