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DANUZA LEÃO
Os prazeres da paternidade
Dizem que os pais não conhecem os filhos, o que é a mais
pura das verdades. E os filhos, como também não conhecem os
pais, esperam deles o equilíbrio
total, a coragem, a segurança e a
capacidade de agir de maneira
sensata em todos os momentos.
Não, os filhos não conhecem os
pais, e por isso esperam -aliás,
exigem- que eles sejam fortes e
perfeitos.
Ignoram que, apesar dos anos
terem passado, muitos continuam frágeis e inseguros, e alguns
ainda não aprenderam a lidar
com sua própria vida, que dirá
com a dos filhos. Obrigação de ser
forte? E quem não for, como é que
faz?
Quando um deles não vem dormir em casa e não avisa, esses
pais simplesmente não sabem o
que fazer. Depois do mais óbvio,
que é dizer o quanto ficaram
preocupados etc. e tal, têm que escolher um rumo: serem compreensivos, dar uma bronca ou
perguntar que tal a gata. Que
problema.
Apesar de procurarem se informar sobre como se comportar
diante de certos problemas juvenis, quando constatam, com a
certeza que a memória lhes traz,
que seu querido filho anda puxando um fumo, não conseguem
encontrar a maneira certa de
abordar o assunto; esse pai, que
foi jovem nos anos 70, não tem
nem o direito de ser careta. Diálogo? E qual o adolescente de olhos
vermelhos, fumado, que dialoga?
E como esse pai, que sempre foi
tão moderno e tão companheiro,
vai reprimir um filho, logo ele,
que sempre declarou ter horror à
palavra repressão?
Ele sabe que isso é coisa da idade, que provavelmente vai passar,
mas não pode liberar -afinal,
pai é pai. Ameaçar nem pensar
-aliás, ameaçar como? Botando
de castigo? Cortando a mesada?
Só rindo. Explicar os perigos de
ser apanhado numa blitz e ir parar numa delegacia é uma; mas se
é por aí, então em casa pode, dizem os adolescentes -nessa hora
eles dialogam como ninguém. Ok,
pode; mas todos os dias ou só nos
fins de semana? E só no quarto ou
libera geral, na sala, vendo a novela? E isso não é um péssimo
exemplo para o irmãozinho de
cinco anos? E esse pai sabe o que
deve fazer? Claro que não.
Tem também a irmã, com 16
anos, que quer levar o namorado
para dormir em casa. Afinal, se o
irmão pode, ela também pode.
Ah, mas ela é mulher; e daí, mulher é diferente de homem?
Não entre por esse caminho que
você vai se dar mal. Ah, detalhe:
como o pai é solteiro, costuma
também levar as suas namoradas
para casa.
Dinheiro para motel a garotada
não tem, e essa despesa ser do pai
-você- também é demais;
transar no carro não dá, pois a
polícia está aí mesmo, atenta, zelando pela moral e pelos bons costumes da família brasileira. Então pode levar o namorado para
dormir em casa? Pobre pai. Ok,
conhece o garoto e a família do
garoto (como se isso mudasse alguma coisa); ok, pode. Mas um
dia eles brigam e começa o troca-troca de namorado. Ah, o novo
não pode? Por que, se o antigo podia? Ok, pode. Só que daí a uma
semana já é outro, e num apartamento em que a irmã leva o namorado para dormir, o irmão leva as gatas e a maconha é liberada, esse que um dia foi um lar vai
virar a própria casa da mãe Joana, e de quem é a obrigação moral de botar ordem na casa? Do
pai, é claro; do pobre pai. Mas tomando todas as precauções para
não ser tachado de hipócrita, a
pior ofensa que se pode ouvir de
um filho.
Bem difícil ser pai.
PS: O assunto não acabou.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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