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COMPORTAMENTO
Aumento nas duas últimas décadas preocupa especialistas; ocorrência entre homens foi quase duas vezes maior
Suicídio de jovens cresce 42,8% no país
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Em meio à angústia e ao silêncio
de seus personagens, um problema de saúde pública cresce no
Brasil: o suicídio de jovens.
Um estudo do Claves (Centro
Latino-Americano de Violência e
Saúde) mostra que, em 20 anos,
de 1979 a 1998, o suicídio na faixa
etária de 15 anos a 24 anos cresceu
42,8% em 11 capitais brasileiras.
Em 1979, a taxa de suicídios de
jovens nas capitais estudadas era
de 3,5 por 100 mil habitantes. Caiu
para 3,4 em 1985, subiu para 4,0
em 1990, chegou a 4,9 em 1995 e a
5,0 em 1998.
Esse crescimento, de 42,8%, é
superior ao da taxa de suicídios
para o total da população no mesmo período, 27,3%, informa o relatório da pesquisa.
Os índices foram obtidos a partir de dados oficiais do Ministério
da Saúde analisados pelos pesquisadores do Claves, um dos principais centros de estudo da violência no país, ligado à Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz).
Os pesquisadores não apontam
uma causa única para o aumento
de casos de suicídio na população
jovem, mas listam pontos relacionados à sua ocorrência, como depressão, doenças psiquiátricas,
disposição hereditária, conflitos
familiares, dificuldades de relacionamento, uso de drogas ou álcool e os chamados sintomas da
exclusão social.
"Às vezes o jovem não se sente
incluído em sua escola, em sua família ou em um emprego. Às vezes ele sente falta de uma instituição que lhe dê suporte, que o
oriente", afirma a psicóloga Edinilsa Ramos de Souza, diretora do
Claves e co-autora do estudo realizado em parceria com Cecília
Minayo e Juaci Malaquias.
Na análise do perfil das vítimas,
os pesquisadores verificaram que
os homens eram maioria. Em
1998, foram 201 vítimas do sexo
masculino para 74 do sexo feminino, ou seja, 2,7 homens para
uma mulher.
Cerca de 80% das vítimas eram
solteiros. A maioria (49%) tinha
apenas o ensino primário, embora no último ano analisado tenha
crescido a participação de vítimas
com nível escolar mais alto.
Na faixa de 18 anos a 24 anos,
apenas 3,5% estavam na universidade. Profissionalmente, as vítimas foram identificadas majoritariamente como estudantes ou
trabalhadores manuais.
"Em sua maioria, são pessoas
com baixa escolaridade, que viveram em condições difíceis, muitas
vezes deixaram de estudar para
trabalhar, ganham pouco ou nada. Jovens que, na flor da idade, se
viram submetidos a pressões para
eles insuportáveis", afirma Souza.
Jovem vulnerável
Até hoje, o suicídio, especialmente o de jovens, não tem estado
entre as maiores preocupações
brasileiras na saúde pública.
A taxa nacional de suicídios para o total da população era de 3,98
por 100 mil habitantes em 1999,
baixa para os padrões internacionais: num ranking de 60 países organizado pela Unesco, a taxa mais
alta é a da Lituânia (41,9). O índice
é de 35,5 na Federação Russa, 18,8
no Japão e 11,3 nos Estados Unidos. O Brasil ocupa o 52º posto.
A taxa de suicídio entre jovens
no Brasil também pode ser considerada baixa, se comparada aos
índices de 30,5 na Federação Russa -primeira colocada no mesmo ranking da Unesco, agora só
para a população jovem-, 11,1
nos Estados Unidos e 8,5 na França. O Brasil é o 51º do ranking.
O primeiro problema, portanto,
analisam os especialistas da Fiocruz, é o ritmo de crescimento da
taxa de suicídios de jovens, mais
acelerado que o verificado para o
total da população.
O segundo problema é que o
suicídio cresce em uma faixa da
população -a dos jovens- já vitimada por outro drama, o dos
homicídios.
"Com isso, o massacre dos homicídios ganha um fator auxiliar,
os suicídios. E uma porção extremamente jovem da população
passa a ficar vulnerável: não usa
capacete na moto, bebe para dirigir, é vítima de homicídio e agora
também apela para o suicídio",
afirma a pesquisadora do Claves.
Os analistas calcularam também as taxas de suicídio por 100
mil habitantes em 11 capitais.
A taxa mais alta foi em Belém
(11,4), seguida de Porto Alegre
(10,4), Curitiba (8,6), Belo Horizonte (7,2), São Paulo (5,9), Fortaleza (5,3), Recife (3,9), Vitória
(3,8), Natal (1,4), Rio de Janeiro
(1,0) e Salvador (0,4).
Não há uma explicação consolidada para essas diferenças regionais, mas hipóteses lançadas pelos pesquisadores.
Eles suspeitam, por exemplo, de
que a alta taxa de suicídios de jovens em Belém esteja relacionada
à ocorrência de casos entre indígenas, um fenômeno já detectado
por estudiosos.
Outra hipótese levantada pelos
pesquisadores é que, de acordo
com estudiosos do tema, as taxas
de suicídios estejam relacionadas
à maior ou à menor opressão social, influindo na forma como o
jovem se relaciona com o mundo.
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