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HC atende quase 30 casos por mês
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
"A questão, para o suicida, não é
a morte. É a vida que está insuportável. Por isso ele não se importa
com a dor que vai sentir, ou com
as sequelas que o suicídio pode
deixar. Ele não pensa na morte,
pensa na dor da vida."
Mara Cristina Souza de Lucia
comanda uma equipe de 60 psicólogos que tenta "estar junto" dos
cerca de 3.000 pacientes que se internam por mês no Instituto Central do Hospital das Clínicas. Nove desses psicólogos hospitalares
se ocupam apenas daqueles que
tentaram se matar. O HC recebe
de 20 a 30 vítimas por mês, quase
um caso por dia.
Assim como alcoólatras, vítimas de overdose e mulheres que
praticaram aborto, os "suicidas"
não são pacientes "queridos" pelos profissionais de saúde. "O
hospital é um lugar de cura, e eles
se colocaram em risco de morte",
diz Mara. E muitos vão tentar novamente. Cabe ao psicólogo detectar isso e tentar evitá-los.
O próprio suicida fornece pistas
do que pretende fazer. Aquele que
age por um distúrbio impulsivo
-"briga com alguém e toma soda cáustica nos minutos seguintes", por exemplo- costuma agir
com maior violência e tem menos
chance de escapar. "Ele passa do
sentimento penoso direto para a
ação. Se sobreviver, o risco de tentar novamente é maior."
Há o paciente deprimido que
vem acumulando frustrações e
que planeja cada detalhe do suicídio. Escreve bilhetes, deixa avisos,
sonda o lugar, faz quase um ensaio. Alguns escolhem locais onde
alguém poderia socorrê-los, e
usarão métodos que não sejam fatais. Outros planejam morrer escondidos, não esperam socorro.
Os especialistas dizem que os
suicidas que planejam, que deixam bilhetes, na verdade cometem "homicídio": querem agredir
violentamente aquela situação ou
a pessoa que o frustra. Estes, mesmo quando sobrevivem com sequelas, acreditam que a situação
vai melhorar para eles, pois conseguiram atingir quem ou aquilo
que os frustrava.
A maioria dos sobreviventes relata situações de medo e sofrimento, de muita pressão por parte de pessoas ou situações. Segundo Mara de Lucia, essas são referências do paciente. A causa mais
comum seria o transtorno bipolar
-a psicose maníaco-depressiva-, quando o paciente intercala
euforia e depressão. "O momento
mais perigoso é quando está saindo do fundo da depressão e encontra um mínimo de força."
A arma mais usada costuma ser
a da própria "corporação": o revólver, no caso dos policiais militares, e os medicamentos, no dos
médicos. As duas categorias mais
atingidas por suicídios.
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