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Sob críticas, terceirização de hospitais públicos faz 10 anos
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 26 de junho de 1998, o
então governador Mário Covas
inaugurou na zona sul de São
Paulo o Hospital Geral de Pedreira. A unidade foi construída, equipada e financiada pelo
Estado. Mas a administração,
da contratação dos médicos à
gestão do dinheiro, foi dada a
uma entidade privada.
Passados dez anos da primeira iniciativa, o modelo de unidades públicas de saúde dirigidas pelas chamadas OSS (Organizações Sociais de Saúde) hoje
alcança, segundo o Ministério
da Saúde, cerca de 90 hospitais,
laboratórios e postos de saúde
em várias regiões do país.
O governo da Bahia e a Prefeitura de São Paulo seguem o
sistema. No Estado de São Paulo, todos os hospitais estaduais
que vierem a ser construídos
serão nesse modelo.
Mesmo uma década depois, a
terceirização da saúde pública
ainda recebe críticas. Ações que
aguardam julgamento no Supremo Tribunal Federal tentam derrubar o modelo.
Os contratos com as OSS surgiram como alternativa às
amarras da administração pública. Ao contrário dos governos, as entidades não precisam
fazer concurso para contratações; podem demitir funcionários ruins sem abrir morosos
processos administrativos; têm
liberdade para pagar salários
altos para estimular a produtividade e atrair os melhores profissionais; e podem comprar
produtos com rapidez, sem a
burocracia das licitações.
O governo de São Paulo tem
estudos mostrando que os hospitais terceirizados são 25%
mais produtivos que os administrados pelo poder público e
custam 10% menos. "Com as
parcerias, trouxemos para o setor público a agilidade do setor
privado", diz o secretário da
Saúde, Luiz Roberto Barradas.
Para receber o título de OSS,
a entidade precisa provar experiência em saúde e não ter fins
lucrativos. Obtiveram esse título, por exemplo, a Unesp, a
USP, a Unicamp e os grupos
Santa Catarina e Santa Casa.
A OSS precisa alcançar metas
de atendimento fixadas pelo
governo e prestar contas mensalmente. O envio de parte da
verba pública fica condicionado ao cumprimento das metas.
O patrimônio é sempre do governo. O contrato pode ser
rompido a qualquer momento.
"Esses hospitais são melhores que muitos hospitais particulares", avalia José Mendes
Ribeiro, pesquisador da Escola
Nacional de Saúde Pública.
O médico Arthur Chioro reconhece os avanços. Porém,
afirma que há problemas. "O
hospital faz 200 cirurgias e 400
consultas, mas não se acompanha a qualidade. O Estado põe a
verba e só espera os números."
Chioro, ex-secretário de
Atenção Especializada do Ministério da Saúde, diz que as entidades privadas, focadas nas
metas, podem ter dificuldade
para se relacionar com o sistema público -postos de saúde e
equipes de saúde da família.
O Conselho Estadual de Saúde de São Paulo é oficialmente
contrário à terceirização dos
hospitais. "Uma empresa contratada só vai fazer as coisas para as quais foi paga. Passou daquilo, ela não faz. E a população
fica prejudicada. Não existe o
comprometimento do setor
público", diz o conselheiro Paulo Malta de Carvalho Filho.
Para ele, dados que mostram
que hospitais de OSS produzem
mais e custam menos são ilusórios: "A empresa recebe o hospital novinho e equipado. No
hospital público, falta tudo. A
comparação não é equilibrada".
O Ministério Público de São
Paulo também tem ressalvas.
"Quando se coloca o SUS na
mão de terceiros, mesmo sendo
filantrópicos, há interesse econômico. Estamos fiscalizando",
diz a promotora Anna Trotta.
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