|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mulher vive sob pedra há mais de 25 anos
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Debaixo de uma pedra
dentro da mata, Isabel Bucklancaster, 64, vive sozinha
há pelo menos sete anos, no
Jardim Paraná, zona norte
de São Paulo.
A infra-estrutura da moradia se resume a uma cama e
uma torneira, que traz água
do alto do morro onde está a
pedra. Não há luz elétrica.
Apesar das precárias condições, ela afirma que pretende continuar no local.
Aparentemente lúcida, disse
que mora ali há 25 anos, mas
entre os vizinhos circulam
versões bastante discrepantes -ela viveria debaixo da
pedra há 15 ou 40 anos.
Debilitada por causa de
um problema na perna, Isabel mal se levanta da cama e
sobrevive graças à ajuda da
vizinhança.
O desempregado Cláudio
de Oliveira da Silva, 18, leva
comida dia sim, dia não. Durante a visita da reportagem
da Folha, ele surgiu com um
vidro cheio de chá. "A gente
passa por dificuldade, mas o
que é um prato de comida?",
indaga Cláudio, que mora
com a mulher, também desempregada, e a filha de nove meses, em dois cômodos.
A história de Isabel virou
lenda entre os moradores.
Há quem diga que ela era
muito rica e, depois, teria fugido para a floresta.
Isabel conta que nasceu
em São Carlos (231 km de
SP), onde viveu até os nove
anos. Em São Paulo, teria
trabalhado na limpeza de escritórios em Moema.
Sobre a origem de seu
pomposo sobrenome, Bucklancaster, disse: "era do
meu pai, ele trabalhava numa fábrica de facas".
Jardim Paraná
A pedra usada por Isabel
não é a única moradia improvisada do Jardim Paraná.
Ao lado da mata, nas encostas do morro, estão casas
sem acabamento e barracos.
As ruas são de terra e não há
água tratada nem esgoto.
O motorista Antônio de
Souza, 46, é um dos 28 moradores que integra a Associação dos Amigos do Jardim Paraná. De acordo com
ele, existem cerca de 1.700 famílias vivendo na área, que
está sendo regularizada.
Desde abril de 2000, eles
estão comprando o terreno
onde moram, que inclui a
pedra de Isabel. "Quando
adquirimos a terra, conseguimos credibilidade do governo", diz Souza.
Até a primeira quinzena de
agosto, deve ser inaugurada
parte da rede de água. A associação pretende ainda ampliar a casa de Isabel. Eles
querem construir um barraco em frente à pedra, com
banheiro e luz elétrica.
Texto Anterior: Babel paulistana: Favelados e "sem-casa" são 13ª cidade do país Próximo Texto: Programa se divide em 3 partes Índice
|