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Entidades alertam sobre medicina estética
Sociedade de Cirurgia Plástica afirma que médicos que se dizem especialistas em estética colocam os pacientes em risco
Em nota, Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e MEC afirmam que não existe a especialidade em estética
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Três entidades enviaram um
comunicado aos médicos do
país para alertar que a medicina estética não existe como especialidade médica.
O documento assinado pelo
CFM (Conselho Federal de
Medicina) e pela AMB (Associação Médica Brasileira) -as
mais altas entidades médicas
do Brasil- e pelo Ministério da
Educação -que fiscaliza os
cursos de medicina- informa
ainda que o médico que põe no
consultório a placa "especialista em medicina estética" comete uma infração ética grave.
Os cirurgiões plásticos apoiaram o manifesto e fizeram um
alerta ainda mais grave. Segundo o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica,
José Tariki, os pacientes que se
submetem a operações com
médicos que se apresentam como especialistas em estética
podem correr risco de vida.
Essa mobilização é uma resposta à fundação de entidades
de medicina estética e à criação
de pós-graduações lato sensu
(especialização) na área.
A Sociedade Brasileira de
Medicina e Cirurgia Plástica
Estética criou um curso no Rio,
dentro da Universidade Veiga
de Almeida. A Sociedade Brasileira de Medicina Estética oferece pós em seis capitais, pela
faculdade Souza Marques.
"Isso é uma invenção. São
pessoas que se reuniram e criaram sociedades ou cursos com
esses nomes. Elas não podem
conferir título de especialista",
diz José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB.
Para ter diploma médico, os
alunos ficam seis anos na universidade. Para se especializar,
passam pela residência médica.
Os cirurgiões plásticos, por
exemplo, cumprem cinco anos
de residência. Depois, para ter
o título de especialista, ainda
precisam ser aprovados numa
prova oficial -aplicada pela associação da especialidade.
As pós-graduações em medicina estética, por outro lado,
duram apenas dois anos e se
concentram em procedimentos específicos, como aplicação
de toxina botulínica, lipoaspiração, implante de mama, plástica de nariz e peeling cirúrgico.
"O especialista de verdade
ganhou uma formação completa na residência, passou por
UTI, viu doenças de todo tipo.
Sabe ver se o paciente que vai
fazer lipoaspiração tem uma
hérnia que precisa ser corrigida. Toma cuidado para não perfurar o intestino. O médico que
cursa essas pós-graduações
tem formação segmentada. Depois de operar três pacientes
ele está apto? Eu acho que não",
diz Tariki, da Cirurgia Plástica.
No final de 2005, uma advogada de 37 anos morreu em São
Paulo depois de submeter-se a
uma lipoaspiração com um médico que se dizia especialista
em medicina estética. Ele não
tinha formação em cirurgia. O
médico foi condenado pelo
Conselho Regional de Medicina e apelou ao CFM. O julgamento ainda não terminou.
De acordo com Tariki, a medicina estética não pode existir
porque os procedimentos que
ela oferece já são feitos pela cirurgia plástica e pela dermatologia, especialidades médicas
reconhecidas. "Pegam o filé do
filé das duas áreas. Por que não
atendem queimados em hospitais públicos? Porque, nessa
área que eles querem, o mercado é grande e o dinheiro é fácil."
Antonio Gonçalves Pinheiro,
um dos diretores do CFM, diz
que o recém-formado deve resistir à tentação do "dinheiro
fácil". "O risco é grande. Ele pode deixar o paciente morrer por
não saber o que fazer diante de
uma complicação."
O Brasil é o segundo país que
mais faz plásticas no mundo. Só
perde para os Estados Unidos.
Entre 2004 e 2006, o número
de brasileiros que se submeteram a cirurgias plásticas saltou
de 616 mil para 700 mil. A mais
popular é a lipoaspiração.
"Não há nada de errado com
cirurgias estéticas", diz Ivo Pitanguy, 82, referência mundial
em plástica. "O errado é você se
dizer especialista em estética."
As entidades de medicina estética atribuem o alerta a uma
disputa por mercado.
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