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SAÚDE MENTAL
Neurocirurgiões de GO e RJ que operam pacientes com transtornos mentais apontam sucesso em 70% dos casos
Médicos defendem técnica psicocirúrgica
DA REPORTAGEM LOCAL
Os médicos de Goiânia (GO) e
Rio de Janeiro (RJ) que admitiram realizar operações cirúrgicas
para tratamento de transtornos
mentais disseram que pretendem
passar a notificar os conselhos regionais de medicina de seus Estados sobre os próximos casos em
que atuarem. Todos defenderam
que o índice de sucesso desses
procedimentos beira os 70% e
afirmaram que, com as novas técnicas, as áreas atingidas no cérebro são muito menores do que na
antiga lobotomia.
O neurocirurgião Luiz Fernando Martins disse que a ausência
de consulta a CRMs não é restrita
a Goiás. "Não só eu, como nenhum cirurgião de São Paulo, de
Belo Horizonte, do Rio Grande do
Sul, consultou nenhum conselho
regional para fazer essa cirurgia."
Para Martins, no entanto, isso
não interfere na qualidade das cirurgias realizadas em Goiás. "Nós
seguimos as indicações da Inglaterra. Nossos critérios para indicações são critérios rigorosos. E
isso, para mim, já basta, já são suficientes para poder limitar. Porque a cirurgia psiquiátrica é uma
cirurgia como outra qualquer.
Tendo critérios definidos de indicação cirúrgica, não tem por que
interpelar o Conselho Regional de
Medicina."
Martins acredita que o CRM só
deveria ser consultado em "casos
específicos", citando como exemplo "pacientes com alterações sexuais". Indagado se realizou alguma cirurgia para casos semelhantes, Martins disse que dois casos
chegaram a ser encaminhados,
inclusive por um juiz de Uberaba
(MG), mas os pacientes não chegaram às suas mãos.
Martins apresentou um balanço
dos resultados que teria alcançado nos 289 pacientes que operou:
22% teriam sido curados, 43% teriam tido "melhora acentuada",
19%, "melhora moderada", 14%,
"pouca melhora", e 2%, "piora".
Sem mortes
O cirurgião Osvaldo Vilela Filho
disse que ouvir o CRM antes de
uma psicocirurgia "não é praxe
em Goiânia". Ele também defendeu os critérios que utiliza para
realizar as operações.
"Você sabe que a gente sempre
tenta seguir absolutamente tudo,
todo o protocolo. Às vezes acaba,
no tumulto do dia-a-dia, não se
recordando de absolutamente tudo. A gente prima pelo paciente, e
a preocupação é basicamente
com o paciente, e, às vezes, a gente
pode não se lembrar dessas outras
[coisas] que são mais formais.
Mas, sempre que possível, a gente
procura se lembrar disso, sim,
sempre, sempre."
Vilela Filho disse que obteve,
em suas cirurgias, "70% de efeitos
bastante significativos", sem
ocorrência de óbitos.
O médico José Augusto Nasser,
40, que atua no Rio de Janeiro,
disse que "vai seguir a jurisprudência cabível". "Se isso é uma
coisa a se fazer daqui para a frente,
se a gente não tem isso registrado
dentro de um conselho [CRM],
acho perfeito, acho que você tem
razão. Mas a gente não passa por
cima da lei."
Nasser divulgou, no Congresso
Brasileiro de Psiquiatria do final
do ano passado, um estudo com
12 pacientes com TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), nos
quais aplicou a técnica da capsulotomia anterior (destruição da
cápsula anterior). O estudo concluiu que "houve uma melhora de
70% na média dos casos".
Segundo o estudo, os casos foram "selecionados por um grupo
experiente neuropsiquiátrico
com um parecer de outro neuropsiquiatra consultor que nunca tinha avaliado o paciente anteriormente".
Para Nasser, "se tem uma resolução, ela tem de ser cumprida".
"Mas eu, como cirurgião, faço
parte de um grupo de estudo. Essas pessoas são de notoriedade internacional, que indicam essas cirurgias, então sabem muito bem o
que é certo e o que é errado."
Nasser disse que todas as cirurgias são acompanhadas e preparadas por pessoal capacitado.
"Teoricamente, [o caso] deveria
passar pelo conselho. Com isso eu
concordo. Agora, o que se faz normalmente é que você já tem as
pessoas que são especializadas
nisso, são poucos os psiquiatras
especializados nisso. Você encaminha para um, encaminha para
outro, ele dá o parecer, e o prontuário do paciente e o dossiê do
paciente já está pronto."
O psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, que indica cirurgias
psiquiátricas para pacientes de
Goiânia, disse que os casos são
antes avaliados por um grupo formado por ele, outro psiquiatra e
uma psicóloga. O psiquiatra disse
que "vários pacientes" chegam a
Goiânia com indicação para cirurgia já emitida por psiquiatras
das cidades de origem. Mas eles
são novamente avaliados pela
equipe goiana, antes da cirurgia.
Filho disse que as equipes de
Goiânia se preocupam em prestar
esclarecimentos ao paciente para
o qual é indicada a operação.
"[A necessidade da cirurgia] é
levada ao paciente, que não é levado à cirurgia sem o conhecimento
do que está sendo feito, sem assinar um termo de consentimento, também com assinatura de familiar ou responsável". (RV e PDL)
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