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"Água parada fica podre; a gente também"
DA REPORTAGEM LOCAL
Também é recente a associação
entre atividade física e prevenção
de distúrbios de humor, como a
depressão. Segundo o psiquiatra
João M. de Azevedo Marques, do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
os estudos, que não têm mais do
que 15 anos, falam em uma redução do risco de 10% a 15%.
Marques desenvolve trabalho
na área de saúde mental e atividade física no PSF (Programa Saúde
da Família) de Ribeirão Preto. Segundo ele, a ação benéfica dos
exercícios sobre a depressão estabelecida já foi apontada. A melhora dos sintomas é de cerca de 20%.
As hipóteses para explicar a
ação preventiva e os benefícios a
pacientes que já sofriam de depressão são as mesmas. Durante a
atividade física há a produção de
substâncias que trazem a sensação de bem-estar, as famosas endorfinas. "Outro mecanismo é o
comportamental. Na hora do
exercício, ao se concentrar, a pessoa afasta as preocupações."
Em uma linha de pesquisas ainda mais recente, já há pistas de
que o exercício possa preservar o
sistema imunológico. Valéria Natale, médica-assistente da disciplina de clínica geral do Hospital das
Clínicas de São Paulo, orientou
uma tese de doutorado em São
Paulo em que foram acompanhados 20 idosos que praticaram corrida durante a maior parte de suas
vidas. Foram avaliadas ainda outras 20 pessoas sedentárias da
mesma faixa etária. Dez jovens sedentários e dez jovens ativos participaram do estudo, para comparação com os mais velhos. "Nos
idosos que corriam, a capacidade
funcional dos leucócitos [células
de defesa] para responder a um
estímulo era próxima da dos jovens sedentários", afirma Natale.
Exercício é remédio
A área em que a associação entre atividade física e prevenção de
doenças está há mais tempo estabelecida é a cardiológica. O estudo clássico sobre o assunto foi
realizado em 1953. Mostrava que
os cobradores dos ônibus de dois
andares londrinos, obrigados a
transitar pelo coletivo para receber o dinheiro dos passageiros, tinham um risco 30% menor de
doença cardíaca quando comparados aos motoristas.
Para Tales de Carvalho, ex-presidente da Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte, "exercício
hoje é remédio". "Durante a recuperação de doenças coronarianas,
insuficiência cardíaca e doenças
pulmonares crônicas, é obrigatório", afirma. "Imagine que, nas
décadas de 40, 50, o indivíduo que
tinha um infarto do miocárdio tinha de ficar deitado nos primeiras
semanas, sem fazer nada, o que é
extremamente ruim", afirma o
médico do comitê paraolímpico
Marcelo Leitão.
Maria Aparecida de Oliveira,
monitora de lian gong (ginástica
chinesa) na periferia de São Paulo, explica os benefícios a seus alunos assim: "O Oriente diz que
água parada fica podre; pois a
gente também". (FL)
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