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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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"Água parada fica podre; a gente também"

DA REPORTAGEM LOCAL

Também é recente a associação entre atividade física e prevenção de distúrbios de humor, como a depressão. Segundo o psiquiatra João M. de Azevedo Marques, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, os estudos, que não têm mais do que 15 anos, falam em uma redução do risco de 10% a 15%.
Marques desenvolve trabalho na área de saúde mental e atividade física no PSF (Programa Saúde da Família) de Ribeirão Preto. Segundo ele, a ação benéfica dos exercícios sobre a depressão estabelecida já foi apontada. A melhora dos sintomas é de cerca de 20%.
As hipóteses para explicar a ação preventiva e os benefícios a pacientes que já sofriam de depressão são as mesmas. Durante a atividade física há a produção de substâncias que trazem a sensação de bem-estar, as famosas endorfinas. "Outro mecanismo é o comportamental. Na hora do exercício, ao se concentrar, a pessoa afasta as preocupações."
Em uma linha de pesquisas ainda mais recente, já há pistas de que o exercício possa preservar o sistema imunológico. Valéria Natale, médica-assistente da disciplina de clínica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo, orientou uma tese de doutorado em São Paulo em que foram acompanhados 20 idosos que praticaram corrida durante a maior parte de suas vidas. Foram avaliadas ainda outras 20 pessoas sedentárias da mesma faixa etária. Dez jovens sedentários e dez jovens ativos participaram do estudo, para comparação com os mais velhos. "Nos idosos que corriam, a capacidade funcional dos leucócitos [células de defesa] para responder a um estímulo era próxima da dos jovens sedentários", afirma Natale.

Exercício é remédio
A área em que a associação entre atividade física e prevenção de doenças está há mais tempo estabelecida é a cardiológica. O estudo clássico sobre o assunto foi realizado em 1953. Mostrava que os cobradores dos ônibus de dois andares londrinos, obrigados a transitar pelo coletivo para receber o dinheiro dos passageiros, tinham um risco 30% menor de doença cardíaca quando comparados aos motoristas.
Para Tales de Carvalho, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, "exercício hoje é remédio". "Durante a recuperação de doenças coronarianas, insuficiência cardíaca e doenças pulmonares crônicas, é obrigatório", afirma. "Imagine que, nas décadas de 40, 50, o indivíduo que tinha um infarto do miocárdio tinha de ficar deitado nos primeiras semanas, sem fazer nada, o que é extremamente ruim", afirma o médico do comitê paraolímpico Marcelo Leitão.
Maria Aparecida de Oliveira, monitora de lian gong (ginástica chinesa) na periferia de São Paulo, explica os benefícios a seus alunos assim: "O Oriente diz que água parada fica podre; pois a gente também". (FL)

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