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ENTREVISTA
Prevenção ao alcoolismo no Brasil pode servir de modelo a outros países
AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
O Brasil foi escolhido pela OMS
(Organização Mundial da Saúde)
para a implementação de um programa de prevenção ao alcoolismo, que já está em andamento
desde o início do ano em Ribeirão
Preto (314 km de São Paulo).
Dados da organização mostram
a necessidade desse tipo de ação
no país: dos 12 principais fatores
de risco para o desenvolvimento
de doenças ou para a incapacitação em diversos níveis -como
tabaco e colesterol, por exemplo-, o álcool está acima de qualquer outro e é a primeira causa.
O projeto Disseminação e Implementação de Estratégias de
Diagnóstico e Intervenção Breves
para Problemas Relacionados ao
Álcool foi debatido na semana
passada em Ribeirão em um simpósio. Seu diretor, Isidore Obot,
52, e o consultor da OMS e chefe
do departamento de saúde comunitária da Universidade de Connecticut (EUA), Thomas Babor,
59, falaram à Folha. Segundo eles,
o Brasil poderá, inclusive, ser modelo para outros países no combate ao uso do álcool. Um dos
motivos seria o PSF (Programa
Saúde da Família) para disseminar a campanha antialcoolismo.
Folha - Por que a OMS tem se
preocupado com a prevenção do alto consumo de álcool?
Thomas Babor - Existem hoje
cerca de 60 doenças que podem
ser relacionadas ao uso abusivo
do álcool.
Isidore Obot - Algumas dessas
doenças são causadas estritamente pelo álcool, como a cirrose. Outras têm uma relação menos direta, como câncer de garganta e
doenças do coração.
Babor - Os maiores problemas
da atualidade relacionados ao álcool são os ferimentos em geral,
quedas, acidentes de trabalho e a
violência doméstica.
Folha - Que números comprovariam essa importância em prevenir
o consumo excessivo e a dependência do álcool?
Obot - Se colocarmos todas as
doenças juntas e tentarmos estimar o custo delas para a sociedade, o álcool contribui com 4% para isso. É importante ressaltar que
esse valor de 4% é mundial. Mas
existem regiões em que esse número é maior. Em países de baixa
mortalidade e em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo, o valor está em 7,8%.
Folha - Foi por isso que o Brasil foi
escolhido para implementar o projeto de prevenção ao uso abusivo
do álcool?
Babor - Apesar de não ser a única razão, esse foi o motivo principal. Aqui e na África do Sul, onde
também existe um projeto semelhante, há altas taxas de consumo
de álcool e um aumento das taxas
de problemas de saúde relacionados a isso.
Folha - Que países hoje seriam
exemplos na prevenção ao uso
abusivo de álcool?
Obot - Esse projeto já foi implementado em países desenvolvidos da Europa, como Espanha,
França, Holanda e Suécia, e também no Canadá e na Austrália.
Folha - E o Brasil deve imitar esses países?
Babor - Eu acho que isso não será necessário. Esses países têm alta tecnologia e profissionais muito bem preparados, mas aqui vemos programas como o PSF, que
proporciona a visita às casas das
famílias e é talvez uma melhor
forma de desenvolver a prevenção eficaz ao alcoolismo.
Obot - Eu acho, na verdade,
que, em vez de o Brasil imitar outros países, muitos vão acabar copiando o modelo brasileiro. O
método daqui se enquadra melhor no contexto da prevenção.
Folha - Qual é o objetivo principal do projeto?
Babor - É desenvolver tecnologias e procedimentos para mudar
o comportamento de beber das
pessoas. E sabemos que, quando
um médico ou uma enfermeira
conversa com o paciente para reduzir o consumo de bebida e dá a
ele informação sobre os riscos,
cerca de 20% a 30% dos pacientes
irão reduzir de um nível alto de
consumo para um nível moderado ou baixo. Sabemos que isso
funciona: quando o médico vê o
paciente algumas vezes e mostra
o que precisa ser feito, ele irá responder. Estamos tentando fazer
com que o maior número possível de profissionais de saúde, desde o médico até o agente de saúde, use o mesmo procedimento.
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