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AMBIENTE
Possíveis causas do problema são urbanização desenfreada, construção de portos e "quebra-mares" em Fortaleza
Mar avança, destrói casas e ameaça praias no Ceará
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ICAPUÍ (CE)
Praias do litoral do Ceará estão
ameaçadas de desaparecer por
causa do avanço do mar, que destrói casas e afasta os turistas.
Os efeitos da força das marés
são mais visíveis em três praias:
Barreiras, no município de Icapuí
(192 km de Fortaleza), Iparana e
Icaraí, ambas em Caucaia, na região metropolitana da capital.
A chamada maré grande assusta até mesmo os moradores mais
velhos, acostumados com as mudanças do mar. "Ninguém sabe se
Deus é assim mesmo e deixa a natureza desfazer tudo o que Ele
faz", disse Maria Vilani Barbosa,
70. Ela nasceu na praia de Barreiras e mora na mesma casa com a
família há 50 anos.
Casas e coqueiros que ficavam
em frente à casa de Barbosa já não
existem mais. Até mesmo uma
rua estreita, construída pelos moradores para a passagem de veículos à beira-mar, começou a desmoronar de três anos para cá.
Para impedir que o mar avance
mais ainda, os moradores improvisam, em frente às casas, barreiras de madeira e pedra. Até um
muro de tijolos chegou a ser construído na beira da praia, mas o
mar já o destruiu parcialmente.
"A maré leva tudo embora, não
espera por ninguém. Não adianta
brigar com a natureza", disse o
pescador Francisco de Assis Barbosa, 72, marido de Maria Vilani e
patriarca de uma família formada
por nove filhos, 36 netos e oito
bisnetos, todos habitantes da
praia de Barreiras.
"O mar não vai obedecer a uma
cerquinha", disse a matriarca.
O volume da maré varia de mês
a mês, de acordo com o vento, a
lua e as correntes marítimas. Durante o dia, há momentos em que
o mar aparece mais recuado e outros em que avança mais.
A saída, para os moradores, é
mudar. "Se levassem a gente para
uma casinha no alto da serra, já
estava bom. Pelo menos a gente ia
conseguir dormir à noite, sem
medo de o mar invadir a nossa casa de repente", disse Zilda de Oliveira Barbosa, 33, outra moradora da localidade, onde vivem cerca de 250 famílias. A base da economia local é a pesca artesanal.
Existe um projeto da Prefeitura
de Icapuí para a construção de
contenções de pedra dentro do
mar, mas ainda não há previsão
de quando a obra será realizada.
Causas
Ainda não foi identificada uma
causa específica para o avanço do
mar na praia de Barreiras. Entre
as hipóteses está o aquecimento
do planeta, que provoca o derretimento de geleiras e o aumento do
volume dos oceanos.
Já em Caucaia, estudos indicam
que a urbanização contribuiu para acelerar o processo erosivo e a
diminuição da faixa de areia. Na
cidade, o mar destruiu casas de
veraneio nas praias de Iparana e
Icaraí, dois dos principais destinos turísticos do Estado.
De acordo com estudos coordenados pela UFC (Universidade
Federal do Ceará), a construção
de portos e dos chamados "quebra-mares" (espigões de pedra
construídos dentro do mar, utilizados para conter o avanço das
águas), em Fortaleza, é a causa da
degradação ambiental existente
em Iparana e Icaraí.
Em seu curso normal, sem barreiras, as marés transportam sedimentos do próprio oceano de um
lado para o outro, mantendo o
equilíbrio ambiental. A partir do
momento em que a maré encontra obstáculos, os sedimentos retirados de uma praia não podem
ser levados para o seu destino natural, o que gera o avanço das
águas em determinados pontos.
No caso de Iparana, o processo
de degradação começou na década de 70, como indicam pesquisas
da UFC. Segundo um trabalho de
1989, intitulado "Dinâmica Sedimentar entre as Praias do Futuro
e Iparana", o mar já havia avançado 300 metros na praia. Hoje, a
faixa de areia no local praticamente não existe mais.
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