|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
Para pesquisadores, crescimento econômico no interior atraiu moradores, mas falta de empregos gerou miséria
"Cidades foram vítimas do próprio sucesso"
DA REPORTAGEM LOCAL
"A rota do crime segue na esteira da rota da riqueza" e os municípios do interior que conseguiram
enriquecer foram "vítimas de seu
próprio sucesso". As explicações
sobre a interiorização do crime no
Estado de São Paulo, que podem
ser consideradas contraditórias
inicialmente, são de pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São
Paulo (NEV/USP).
O sociólogo Sérgio Adorno,
coordenador do NEV, e a psicóloga social Nancy Cardia, coordenadora de pesquisas do núcleo,
foram convidados pela Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) a analisar a situação da cidade, uma das principais do Estado, mas acabaram ajudando a explicar o fenômeno que atinge várias regiões do interior paulista.
Segundo eles, a causa da violência nas cidades interioranas está
nas décadas de 80 e 90, quando
um crescimento econômico
atraiu trabalhadores de outras regiões. Mas, com a oferta insuficiente de vagas, surgiram bolsões
de miséria, favelização e o narcotráfico -processo semelhante ao
das grandes metrópoles.
A falha dos poderes públicos,
entre eles a polícia, é ter deixado
isso acontecer, diz Adorno.
A cidade de Cubatão, segundo a
expressão dos pesquisadores, pode ser considerada "vítima do
próprio sucesso". Segundo o prefeito Clermont Silveira Castor
(PL), as indústrias atraíram trabalhadores, mas a oferta de empregos caiu. Hoje, 60% dos 107 mil
habitantes vivem em favelas. "Cubatão sempre foi uma cidade ordeira e pacífica. Mas faltou ação
preventiva da polícia. Não posso
generalizar, mas em Cubatão eles
investiram pouco", disse Castor.
Para Sérgio Adorno, a saída para deter o avanço da interiorização da violência está no que ele
chama de "contrato local de segurança pública". Autoridades municipais, com participação da comunidade, fariam um diagnóstico da situação e estabeleceriam as
prioridades. "Existe dificuldade
de a polícia se articular com as comunidades. Muitos policiais fazem questão de esconder os dados nas suas cidades", diz o ex-secretário nacional de Segurança
Pública José Vicente da Silva.
Texto Anterior: Segurança: Crime "migra" para o interior de São Paulo Próximo Texto: Ex-jogador Neto alterou hábitos depois de assalto Índice
|