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DANUZA LEÃO
Sem respostas
Depois do sucesso da parada
do domingo passado, é o caso de pensar: estará o universo se
tornando gay?
Um jovem pergunta se na minha juventude havia tantos gays
como agora. Não, respondo. Existiam alguns, poucos, e me lembro
de um amigo de cerca de 30 anos,
bonito, rico, inteligente, culto,
charmoso, que se matou quando
veio a público que ele era gay
-isso no final dos anos 60, vê se
pode. Mas, continua o jovem,
será que eram tantos quanto
hoje, só que ninguém sabia? E
mulheres gays, pergunta, já existiam? Bem, existir existiam, mas
era diferente.
Conto que havia em Paris uma
boate chamada Carrol's, onde todas -da que abria a porta às que
serviam as bebidas- pareciam
saídas da mesma fôrma. O cabelo
era cortado curtinho como o dos
homens, vestiam terno completo,
camisa, gravata e sapato masculino; eram quase todas gordas e
feias e faziam questão de não
usar um pingo de maquiagem
-de não se enfeitar, enfim.
A clientela era igual; dançavam
entre elas, e era um programa
turístico ir às vezes -muito bem
escoltadas- ver esse mundo tão
diferente. Morrendo de medo,
pensávamos estar correndo grandes riscos de um assédio sexual,
que naquele tempo devia ter outro nome; lá, nunca nenhuma de
nós, as garotas do grupo, se
aventurou a ir ao banheiro retocar a maquiagem.
O tempo passou, o mundo foi
mudando e o número de gays aumentando: hoje os jornais informam sobre as novas conquistas
desse universo cada vez maior
(10% da população assumida, segundo as pesquisas), o direito, em
alguns países, ao casamento e à
adoção de crianças, a "saída do
armário" com menor ou maior
dificuldade, a aceitação pelo
mundo em geral de sua opção sexual (será que "opção sexual" é
como se deve dizer? Se não for, já
vou me desculpando).
Por outro lado, há anos ouço
minhas amigas, das mais diversas
gerações, se queixando de que
não existem homens "na praça".
As casadas fazem parte de outro
circuito, as solteiras e divorciadas
não conseguem namorar. Segundo elas, quando o namoro vai ficando mais sério, se surge a mais
leve perspectiva de um dia, talvez,
quem sabe, irem morar junto
-nenhuma é louca de pronunciar a palavra casamento-, eles
somem, desaparecem. Aliás, minto: eles começam a desaparecer
quando percebem que as saídas
sem compromisso estão virando
saídas com compromisso. Para
essas mulheres, se uma parte dos
homens não quer nada, outra está casada, e outra é gay, a vida fica difícil, convenhamos.
Talvez seja por isso (também)
que existem em certos círculos, sobretudo nas cidades grandes, tantas menininhas, todas gracinhas,
sofisticadas, bonitinhas, saradas e
-ai, a dificuldade de escolher a
palavra sem ofender, vamos lá-
sapatinhas. Dizem (eles) que às
vezes elas resvalam e dão uma
voltinha com um deles, bem à
moda antiga, mas que voltam logo ao que preferem, isto é, elas
com elas. Sabe-se também que a
geração mais novinha vai às raves, todos se beijam muito a noite
inteira e, depois, nada.
É impossível não refletir sobre
todas essas novidades: como explicar este vento gay que está varrendo o mundo? Será a liberdade
de poder fazer todas as experiências, será uma fase, estará
havendo um mal-entendido entre
homens e mulheres, será um
modismo, será que os impulsos
pelo mesmo sexo sempre existiram e a diferença é apenas que
antes havia a famosa repressão
que agora não existe mais, ou será tudo junto?
Boas perguntas.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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