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PATRIMÔNIO
Funcionários da Secretaria de Estado da Juventude dificultam visita a antigo edifício histórico do Banespa
Longe do público, prédio art déco é tombado
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
A secretária de Cultura do Estado, Cláudia Costin, homologou
na semana passada o tombamento do antigo prédio histórico do
Banespa localizado no número 9
da praça Antônio Prado, no centro de São Paulo, que havia sido
pedido pelo Condephaat.
Não é o Banespinha (futura sede
da prefeitura) nem o Banespão (o
espigão de 34 andares que lembra
o Empire State Building de Nova
York e traz a bandeira do Estado
fincada no topo), mas um primo
mais velho e mais pobre.
A importância da edificação é
irrefutável. Concluído em 1938 a
partir de projeto do arquiteto Álvaro de Arruda Botelho de 1935,
abrigava o extinto Banco São Paulo, criado em 1889 por decreto de
d. Pedro 2º.
É ainda considerado o principal
edifício art déco do país, o único
com citação internacional nos catálogos das obras representativas
desse movimento dos anos 20 e 30
inspirado no cubismo que, segundo o "Aurélio" buscava o equilíbrio dos volumes e fácil adaptação à produção industrial.
Munido dessas informações, o
habitante de São Paulo pode pensar numa visita monitorada, como tentou o repórter na sexta à
tarde. Vai encontrar um esquema
de desinformação e descaso.
O prédio abriga hoje a Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer, recém-desmembrada da de Turismo, que mudou-se
em parte. Na entrada principal, o
visitante é recebido por um bonito saguão de mármore carrara.
No subsolo, dentro do cofre, ficava o extinto Museu Adoniran
Barbosa, que ainda conta com seu
acervo. Ambos valem uma visita.
Uma funcionária explica que não,
não se pode visitar sem uma autorização do departamento de divulgação, no sexto andar.
Uma parada na assessoria de
imprensa pega todos de calças
curtas. "Foi tombado? E ninguém
me avisou!", exclama a chefe, que
se identifica apenas como Amanda. "É melhor falar com o Vanilson, da divulgação, no sexto."
Vanilson não está, explica Dirce, a recepcionista. "Tem uma festinha junina na Finanças, está todo mundo lá, você não quer voltar
mais tarde?", pede. Não. "Então
fale com ela." "Ela" se identifica
como "a arquiteta Ivone", que diz
que "este é o único exemplar vertical art déco do Brasil, mas é melhor você falar com a Sônia".
Sônia é a coordenadora de turismo Sônia Belardinucci, que não
recebe a Folha, mas manda a assessora Aline entregar um conjunto de quatro folhas. Entre as
páginas, uma é o organograma da
secretaria. "Mas não vale mais."
E quem quiser visitar o prédio?
"Visitar como? O senhor quer entrar em todas as salas?", espanta-se Dirce, a recepcionista. "Eu recomendaria o quarto andar, que é
mais bonito." De volta à rua, o repórter tenta ainda conhecer o cofre e o museu, com a recepcionista. Que responde: "Tem que falar
com o Vanilson, no sexto andar".
Outro lado
Elaine Cristina Servo, chefe do
almoxarifado da coordenadoria
de turismo da secretaria e responsável pelas visitas, disse por telefone que todos são bem-vindos a
conhecer o prédio, inclusive o cofre, cuja chave fica com ela. "É só
me ligar e, se eu não estiver ocupada na hora, desço e mostro."
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