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SAÚDE
Uso simultâneo de medicamentos eleva chance de reações adversas; recomendação é ação integrada de médicos
Excesso de remédio traz risco a idoso
FABIANE LEITE
BERTA MARCHIORI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um idoso e uma cesta de remédios. Vidros cheios de pílulas no
armário, a avó vive atrapalhada
com meia dúzia de medicações. O
que é considerado "normal", "comum", pode ser na verdade sinal
de má assistência -e de risco.
"Quanto maior o número de remédios utilizados, maior é a probabilidade de haver reações adversas. A utilização de cinco fármacos concomitantes aumenta
em 50% esse risco", explica a farmacêutica Maria Fernanda Carvalho, especialista em interações medicamentosas do Grupo Zanini-Oga -que produz publicações
sobre medicamentos.
No Brasil, estudos isolados feitos a partir da década de 80 mostram que idosos consomem, em média, de dois a 3,24 produtos.
Não há um banco de dados sobre
reações adversas. "A idéia de que
é normal tomar tanto remédio é
decorrente da pressão da indústria farmacêutica. Do entendimento errôneo de que para todo o
mal é preciso uma pílula dourada", afirma a epidemiologista da
Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz) Suely Rozenfeld.
Em sua tese de doutorado, ela
avaliou 600 idosas do Rio de Janeiro que tomavam tranquilizantes e sedativos. Verificou que as
que tomavam um ou mais dos
fármacos tinham risco cinco vezes maior de quedas múltiplas.
Por causa de problemas como
esses, a ordem para pacientes e familiares é cobrar uma revisão e
uma racionalização das "cestas"
de remédios. Os múltiplos profissionais que atendem o idoso devem criar alguma forma de comunicação para organizar a prescrição. Até porque a maioria desses
pacientes consome principalmente drogas prescritas por médicos, como reforça um levantamento recente da Faculdade de
Saúde Pública da USP.
Dos 2.143 paulistanos com 60
anos ou mais ouvidos, 86,7% tomavam algum medicamento,
mas somente 10% declaravam fazer automedicação.
Além do risco das reações adversas, há ainda o das interações
entre as drogas, afirma Carvalho.
Antiácidos, por exemplo, reduzem a ação de medicamentos para o coração (os mais consumidos
pelos idosos). Hipoglicemiantes
(que reduzem as taxas de açúcar)
aumentam os efeitos de anticoagulantes. Já se sabe também que é
frequente a prescrição errônea.
Um estudo publicado em 1994 na
"Jama" (a revista da associação
médica norte-americana) mostrou que um quarto dos idosos recebia algum fármaco impróprio.
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