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ENTREVISTA
Pacientes com câncer de pulmão melhoram com quimioterapia
DA REPORTAGEM LOCAL
Está provado que a quimioterapia melhora as chances de recuperação de pacientes com câncer de
pulmão. São 10% de aumento nas
taxas de sobrevida naqueles em
estágio avançado da doença. Parece pouco. Mas hoje, sem quimioterapia, apenas 50% dos que
descobrem esse câncer já avançado sobrevivem passados cinco
anos. O novo protocolo de tratamento garante 55% de sucesso.
A pesquisa, com 1.867 pacientes
de 33 países, o Brasil incluído, foi
uma das escolhidas entre 3.000
trabalhos para ser apresentada
com destaque em um dos maiores
congressos sobre câncer do mundo. O evento foi realizado pela Asco (a sociedade norte-americana
de oncologia clínica) em Chicago,
no início do mês.
"Esse processo que ocorre com
o câncer de pulmão é uma revolução semelhante à que ocorreu
com o câncer de mama", afirma
Riad Younes, 43, chefe do Departamento de Cirurgia Torácica do
Hospital do Câncer de São Paulo
-uma das instituições participantes do estudo.
O câncer de pulmão é o que
mais mata no país e no mundo. O
Inca (Instituto Nacional do Câncer), que também participou do
estudo, projeta para este ano
16.230 mortes pela doença.
(FL)
Folha - O que mudou ?
Riad Younes - O grande problema do câncer de pulmão é que,
mesmo nos casos com diagnóstico precoce, um número substancial de pacientes acaba morrendo
da "doença espalhada" [metástase]. É muito lógico pensar em tratar também o resto do corpo
[com a quimioterapia], como se
faz com o câncer de mama. A
idéia não é nova. Mas não tínhamos comprovado que fazer quimioterapia após tirar o tumor do
doente fazia alguma diferença.
Os esquemas [de quimioterapia] não eram tão bons, assim como o número de doentes e os protocolos de pesquisa. Então, em 95,
juntou-se um número grande de
pesquisadores para tentar responder essa pergunta: vale ou não
vale fazer a quimioterapia? Salvamos mais alguém ou não?
Conseguimos comprovar que a
quimioterapia mudou a chance
de sobrevida dos doentes. A diferença agora é que, mesmo no estágio inicial, faremos a cirurgia e
depois a quimioterapia [antes o
paciente era só operado].
Folha - Quanto houve de ganho?
Younes - No câncer detectado
precocemente, as chances de cura
são de 70%, 80% a longo prazo.
Pula de 80% para 85%. Para os casos mais avançados, de 50% para
55%. São cinco pontos percentuais. O ganho relativo nesse caso
é de 10%.
Folha - Que tipo de esquema quimioterápico garantiu o resultado?
Younes - O mais interessante é
que não precisa fazer uma quimioterapia extremamente sofisticada. Elas são cada vez mais simples, baratas, breves. Há quimioterapias que praticamente não
mudam o ritmo de vida. Os índices de complicações diminuíram.
Folha - O protocolo muda a partir
de quando?
Younes - Como o estudo foi divulgado há alguns dias, as sociedades [de cancerologia] estão
avaliando. Mas oncologistas, individualmente, já podem se considerar adequadamente munidos
de resultados para propor a quimioterapia aos doentes.
Folha - Por que o câncer de pulmão mata tanto?
Younes - Ele infelizmente dá
pouco sintoma específico. Em geral, dá em fumante, e fumante tosse normalmente. Esse câncer frequentemente se espalha, mesmo
precoce. A célula tumoral facilmente entra na veia e se dissemina. E muitos dos pacientes demoram para procurar o médico.
Folha - Quem não se convence a
parar de fumar deve fazer check-up
com qual frequência?
Younes - Recomendamos um
raio-X anual. Provavelmente, no
futuro, confirmaremos a vantagem de fazer a tomografia anual e
não mais a radiografia.
Além disso, se a voz mudou durante duas ou três semanas, procure o médico. Saída de sangue no
catarro e dores torácicas que não
passam também devem ser investigadas.
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