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ÓCIO FORÇADO
Desemprego já atinge cerca de 20% da população economicamente ativa na Grande SP e afeta até os mais qualificados
Aprenda a conviver com quem perdeu o emprego
ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA
As estatísticas são divulgadas
todos os meses, mas nada como
uma imagem para traduzir o peso
dos números em realidade. As cenas das 15 mil pessoas que tentavam se inscrever em um concurso
público da empresa municipal de
limpeza urbana do Rio foram um
dos fatos mais comentados da semana. O cargo: gari. O salário,
R$ 610. Entre os candidatos, gente
com ensino médio completo e até
curso superior.
A imagem deu a dimensão macro de um problema que quase todo mundo já conhece na vida privada. É raro quem não tenha um
amigo ou familiar desempregado.
Na quinta, números do IBGE
confirmaram o quadro: o desemprego aberto (quem procurou
trabalho nos últimos 30 dias) estimado na região metropolitana de
SP é de 1,3 milhão de pessoas.
Considerados ainda o desemprego oculto pelo trabalho precário
("bicos") e pelo desalento (quem
procurou nos últimos 12 meses,
mas parou por desânimo ou falta
de dinheiro), a legião dos sem-emprego ronda cerca de 20% da
população economicamente ativa
na Grande SP -quase 2 milhões
de pessoas, segundo a Fundação
Seade e o Dieese.
A falta de trabalho atinge até os
mais qualificados: segundo estudo elaborado por pesquisadores
da USP, Unicamp e PUC-SP e
coordenado pelo economista
Marcio Pochmann, o percentual
de paulistanos com nível universitário desempregados é quase o
dobro do de analfabetos.
"No atual momento do capitalismo, não há emprego para todo
mundo, por mais que a pessoa seja capaz", afirma a psicanalista
Belinda Mandelbaum.
"O emprego formal já não existe
mais como a gente acredita que
ele exista. E aí se formam aquelas
filas enormes, com mil candidatos para uma vaga", diz Leny Sato,
professora do Departamento de
Psicologia Social e do Trabalho do
Instituto de Psicologia da USP.
Porém, a forma como o trabalho é encarado não mudou. "Na
nossa sociedade, a identidade
pessoal e social está fortemente
pautada no trabalho", avalia Sato.
Nesse cenário, o desemprego vira um estigma. "Há uma certa
idéia no imaginário social de que
o problema é individual, que a
pessoa está desempregada porque falhou, que a culpa é dela. E,
se não encontra emprego, é porque não quer, porque é preguiçosa", afirma Belinda Mandelbaum.
Nada pior para quem já está
com a auto-estima abalada, muitas vezes duvidando da própria
competência. "O desempregado
recente vive um sentimento de
ruptura, que deve ser encarado
como a elaboração de um luto",
compara o professor da FGV Gilberto Guimarães, diretor-geral no
Brasil do Grupo BPI, empresa de
"outplacement" (recolocação).
A perda do emprego também
tem um significado muito maior
do que a da privação econômica,
diz ele. "O desempregado perde,
além da renda, as relações sociais,
a organização do seu dia, o sentimento de se sentir útil etc."
É nessa hora que família e amigos podem fazer toda a diferença.
Além de ajudar a manter o moral
elevado, o apoio das pessoas próximas pode ser decisivo na busca
de uma nova ocupação.
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