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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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ÓCIO FORÇADO

Desemprego já atinge cerca de 20% da população economicamente ativa na Grande SP e afeta até os mais qualificados

Aprenda a conviver com quem perdeu o emprego

ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA

As estatísticas são divulgadas todos os meses, mas nada como uma imagem para traduzir o peso dos números em realidade. As cenas das 15 mil pessoas que tentavam se inscrever em um concurso público da empresa municipal de limpeza urbana do Rio foram um dos fatos mais comentados da semana. O cargo: gari. O salário, R$ 610. Entre os candidatos, gente com ensino médio completo e até curso superior.
A imagem deu a dimensão macro de um problema que quase todo mundo já conhece na vida privada. É raro quem não tenha um amigo ou familiar desempregado.
Na quinta, números do IBGE confirmaram o quadro: o desemprego aberto (quem procurou trabalho nos últimos 30 dias) estimado na região metropolitana de SP é de 1,3 milhão de pessoas. Considerados ainda o desemprego oculto pelo trabalho precário ("bicos") e pelo desalento (quem procurou nos últimos 12 meses, mas parou por desânimo ou falta de dinheiro), a legião dos sem-emprego ronda cerca de 20% da população economicamente ativa na Grande SP -quase 2 milhões de pessoas, segundo a Fundação Seade e o Dieese.
A falta de trabalho atinge até os mais qualificados: segundo estudo elaborado por pesquisadores da USP, Unicamp e PUC-SP e coordenado pelo economista Marcio Pochmann, o percentual de paulistanos com nível universitário desempregados é quase o dobro do de analfabetos.
"No atual momento do capitalismo, não há emprego para todo mundo, por mais que a pessoa seja capaz", afirma a psicanalista Belinda Mandelbaum.
"O emprego formal já não existe mais como a gente acredita que ele exista. E aí se formam aquelas filas enormes, com mil candidatos para uma vaga", diz Leny Sato, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP.
Porém, a forma como o trabalho é encarado não mudou. "Na nossa sociedade, a identidade pessoal e social está fortemente pautada no trabalho", avalia Sato.
Nesse cenário, o desemprego vira um estigma. "Há uma certa idéia no imaginário social de que o problema é individual, que a pessoa está desempregada porque falhou, que a culpa é dela. E, se não encontra emprego, é porque não quer, porque é preguiçosa", afirma Belinda Mandelbaum.
Nada pior para quem já está com a auto-estima abalada, muitas vezes duvidando da própria competência. "O desempregado recente vive um sentimento de ruptura, que deve ser encarado como a elaboração de um luto", compara o professor da FGV Gilberto Guimarães, diretor-geral no Brasil do Grupo BPI, empresa de "outplacement" (recolocação).
A perda do emprego também tem um significado muito maior do que a da privação econômica, diz ele. "O desempregado perde, além da renda, as relações sociais, a organização do seu dia, o sentimento de se sentir útil etc."
É nessa hora que família e amigos podem fazer toda a diferença. Além de ajudar a manter o moral elevado, o apoio das pessoas próximas pode ser decisivo na busca de uma nova ocupação.


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