|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Veto a caminhão mudará rotina de SP
Lei que restringe a circulação de caminhões entra em vigor amanhã e vai ampliar trânsito à noite
Prefeitura quer retirar das ruas, até agosto, 100 mil dos 210 mil caminhões que trafegam todos os dias na cidade e reduzir lentidão
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora Maria Isabel
Rodrigues não suporta a confusão do trânsito em Pinheiros
(zona oeste de SP), tal a quantidade de caminhões para carregar e descarregar móveis, ocupando até duas faixas da via.
O problema tende a ser atenuado a partir de amanhã,
quando será proibida a circulação de boa parte dos caminhões
das 5h às 21h na maioria do
centro expandido da capital
-aposta de Gilberto Kassab
(DEM), às vésperas das eleições, para melhorar a fluidez.
Mas, em troca da esperada
melhoria dos congestionamentos, Rodrigues e outros paulistanos vão enfrentar efeitos colaterais que devem provocar
mudanças na rotina da cidade e
nos hábitos da população.
A professora talvez chegue
mais rápido em casa, sem perder dez minutos para percorrer
um só quarteirão, mas deve ser
incomodada pelo barulho dos
entregadores à noite e dos caminhões na hora de dormir. "Se
for colocar na balança, acho
que vai ficar melhor", defende.
Ela também poderá se surpreender com algum trânsito
tardio. Poderá esperar mais para receber a geladeira nova. E,
inicialmente, até sentir a falta
de um produto na padaria.
"Quem está contente ainda
pode mudar de idéia e achar
que não é tão bacana quando
faltar dinheiro no caixa eletrônico", rebate Manoel de Souza
Lima Jr., vice-presidente do
Setcesp (sindicato das transportadoras), em referência a
eventual impacto na distribuição do transporte de valores
por causa da mudança.
O impacto da medida é esperado com temor principalmente pelo pequeno comércio. Mas
deve provocar mudanças que
vão do tráfego ao horário de
prédios para receber entregas.
Vendedores de uma marca
com quatro lojas de móveis em
São Paulo já foram avisados para não animar os clientes com
as promessas de recebimento.
"Se hoje leva de 20 a 40 dias, a
expectativa é alcançar 60 dias.
A promoção de pronta-entrega,
que seria de sete dias, já vai subir para dez", afirma Arnaldo
Poroger, diretor da FormAtual,
que leva mesas, sofás, estantes,
cadeiras a 20 clientes por dia.
Trânsito noturno
A regra prevê que os caminhões, com algumas exceções,
não possam circular numa área
de 100 km2 das 5h às 21h.
Até a semana passada os de
médio e grande porte já enfrentavam limitações das 10h
às 20h numa área de 25 km2.
Mas, além da ampliação do
trecho, incorporando bairros
como Moema e Perdizes, desta
vez os pequenos, de até 6,30
metros, também serão atingidos -nos primeiros meses,
com um revezamento que deve
tirar metade de circulação.
Com isso, para Kassab, 100
mil de um total de 210 mil caminhões deixarão de circular
dentro de um mês. Para a CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego), um alívio na fluidez
de 14% a 17%, similar ao da implantação do rodízio, em 1997.
O movimento mais intenso
de caminhões à noite preocupa
devido à escassez de agentes de
trânsito para contornar os problemas nesse período -que já
existem atualmente e que crescem com a nova demanda.
Há duas semanas, a Folha
flagrou um caminhão com 20
metros de comprimento, às
22h, na contramão da rua
Guaipá, na Vila Leopoldina.
Na última semana, na ponte
Anhangüera da marginal Tietê,
eram funcionários de uma empreiteira que improvisavam
um desvio para os carros por
conta de uma obra que provocava congestionamento de
mais de um quilômetro às 23h.
Com a proibição da entrega
diurna, os gargalos noturnos
não devem se limitar às proximidades de bares e baladas.
"Às 21h, vai parecer um grid
de largada da Fórmula 1", prevê
Claudio Czapski, superintendente do ECR Brasil, que reúne
29 indústrias (como Coca-Cola) e nove varejistas (como Pão
de Açúcar) para desenvolver
soluções logísticas de cargas.
Emerson Kapaz, consultor
do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), espera
um "volume gigantesco de caminhões entre 21h e 22h" até
por conta da lei do silêncio.
Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: Educadores, bêbados e assassinos Próximo Texto: 43% dos caminhões trafegam vazios em SP Índice
|