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Restrição pode incentivar uso do carro
Demanda reprimida de viagens de automóvel deve ocupar o espaço deixado pelos caminhões, diz ex-chefe do Denatran
Crescimento da frota também contribuirá para piorar trânsito; professor da USP, porém, avalia que, sem caminhões, haverá melhora
DA REPORTAGEM LOCAL
A fluidez do trânsito deve ter
alguma melhoria, mas não se
anime tanto se você anda de
carro em São Paulo: parte dos
benefícios da retirada de caminhões das ruas no período diurno será anulada por uma demanda reprimida de viagens; e
outra parte pode se esgotar no
decorrer do tempo pelo próprio
crescimento da frota, com mil
veículos novos a cada dia.
"Não tenha dúvidas de que
vai estimular mais viagens de
automóvel. É um saco sem fundo fazer algo para melhorar a
fluidez do transporte individual. Daqui a quatro anos estará pior do que hoje", diz Ailton
Brasiliense, presidente da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos) e ex-chefe do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
A avaliação de que existe uma
demanda reprimida de viagens
de automóvel que vai ocupar
parte do espaço retirado dos caminhões já foi reconhecida pela
própria administração Kassab.
E a explicação é simples:
muita gente deixa de sair de casa em certos horários por conta
dos engarrafamentos; quando
há qualquer tipo de melhoria,
algumas já mudam de idéia.
Brasiliense ressalva não ter
acesso aos estudos da CET sobre os impactos da medida, mas
diz discordar do conceito adotado pela prefeitura. "As prioridades estão invertidas. O transporte de cargas, entre as prioridades, deve estar na frente do
transporte individual", afirma.
O especialista Jaime Waisman, professor da USP, vê na
restrição aos caminhões um
exemplo de que é possível adotar medidas favoráveis ao trânsito mesmo com poucos recursos financeiros. Para ele, algumas vias com grande tráfego de
caminhões podem ter uma melhoria imediata da fluidez até
superior à média de 14% a 17%
calculada pela prefeitura.
O setor de transporte de carga, porém, avalia que boa parte
da melhoria do trânsito a partir
de amanhã será por conta do
início das férias escolares -e
teme que isso seja utilizado pela gestão Kassab para alardear
os benefícios da restrição.
"Vai dar uma falsa impressão", afirma Manoel de Souza
Lima Jr., vice-presidente do
Setcesp (sindicato que representa as transportadoras).
(ALENCAR IZIDORO e RICARDO SANGIOVANNI)
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