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Arquiteto Joaquim Guedes morre atropelado
De acordo com testemunhas, motorista dirigia uma Pajero prata em alta velocidade e fugiu sem prestar socorro
Guedes, que era professor aposentado da USP, deixa cinco filhos e sete netos; enterro será às 17h de
hoje, no cemitério do Araçá
ESTÊVÃO BERTONI
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu por volta das 20h de
anteontem o arquiteto e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da USP Joaquim Manoel Guedes Sobrinho, aos 76 anos, vítima de um atropelamento na
avenida Nove de Julho, onde
morava, na zona oeste.
Segundo testemunhas, foi
atingido por uma Pajero prata
em alta velocidade, que fugiu. A
placa não foi anotada.
Ele teria atravessado a via fora da faixa de pedestres, conforme testemunhas. No boletim
de ocorrência, PMs que o atenderam relataram que ele atravessou provavelmente na faixa.
Imagens da câmeras de vigilância em frente a um prédio
próximo serão analisadas para
tentar identificar o carro.
Guedes era presidente do
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de São Paulo, cargo
que assumiu em janeiro deste
ano após uma disputa jurídica
com oposicionistas, que contestaram o resultado da eleição.
Com ordem judicial, a sede
do órgão foi arrombada para
que pudesse tomar posse. O arquiteto, porém, estava licenciado do cargo para concorrer à
Câmara Municipal pelo PPS.
"Ele achava que, só por meio
de uma ação política direta, poderia alcançar alguma transformação no Brasil", diz o arquiteto Roberto Loeb. "A arquitetura perde um combatente."
"A grande defesa que ele tinha era a questão das licitações
públicas, que fossem claras e
dessem oportunidade de trabalho a todos os arquitetos", disse
Anne Marie Sumner, arquiteta
ligada ao IAB, que trabalhou
com Guedes. "Ele abriu caminho em várias direções."
Autor de mais de 500 projetos, Guedes planejou várias cidades, como Caraíba (BA), Carajás (PA), Marabá (PA) e Barcarena (PA). Também projetou
a casa na rua Grécia onde a ex-prefeita Marta Suplicy viveu
com o então marido, senador
Eduardo Suplicy (PT).
Formado em arquitetura pela USP em 1954, doutorou-se
em 1972 em planejamento urbano pela mesma universidade,
onde, anos mais tarde, ocuparia
a cadeira de professor titular da
FAU. Aposentou-se no cargo.
Polêmico
Sempre lembrado como briguento, colérico e emotivo,
Guedes chegou até a se desentender com Oscar Niemeyer,
com quem disputou o concurso
para a construção de Brasília.
Apesar de admirar a obra do arquiteto, era contra a concentração de projetos públicos nas
mãos de um único profissional.
Foi, aliás, por causa de outra
briga que Guedes nunca construiu um prédio em São Paulo,
motivo de "grande tristeza" para ele, segundo Sumner. Ele
construiria a sede do Banespa
na praça da República, projeto
que, após desentendimento, foi
repassado a Carlos Bratke.
"Na dúvida, optava sempre
pela polêmica", brinca o neto
Bruno. Era demolidor em suas
críticas, impetuoso, como lembra a família. Defendia suas fortes opiniões mesmo com o passar dos anos. "Ele se sentia como se tivesse 30 anos. Morreu
precoce mesmo aos 76."
Na reforma do teatro da
PUC, invadido e incendiado
durante a ditadura, Guedes optou por manter as marcas das
chamas nas paredes do prédio.
"Ele achava que aquilo era um
patrimônio da história, não
queria apagar as marcas de uma
época e incorporou a lembrança ao espaço", lembra Loeb.
Sua concepção de arquitetura priorizava a funcionalidade e
o uso dos espaços, mas em oposição clara ao modernismo brasileiro, seguindo o arquiteto finlandês Alvar Aalto. "Ele foi
um dos maiores urbanistas brasileiros, um homem que sabe
projetar e conceber a cidade",
diz Miguel Alves Pereira, que
foi sócio e amigo de Guedes.
O enterro será às 17h de hoje,
no cemitério do Araçá. Guedes
deixa cinco filhos e sete netos.
Colaborou KLEBER TOMAZ , da
Reportagem Local
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