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Mulheres são as maiores vítimas das quedas
DA REPORTAGEM LOCAL
Regiane Brigido Godoy, 25, bióloga; Valdezina Miranda Pedreira, 54, aposentada; Vanessa
D'Angelo de Souza, 29, gerente de
marketing; Yara Marques Simões,
21, estudante, Maria Eduarda Silveira, 35, advogada. Em comum,
uma coisa: seqüelas de acidentes
nos passeios de São Paulo.
E o fato de serem todas do sexo
feminino não é mera coincidência. Uma das constatações da pesquisa "Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito
nas Aglomerações Urbanas", do
Ipea, foi que o único tipo de ocorrência em que as mulheres superam os homens como vítimas são
as quedas em calçadas, diz a médica fisiatra Júlia Maria D'Andrea
Greve, que participou do estudo.
O problema é o salto? As mulheres são mais distraídas? "Entre as
possíveis explicações para esse
dado prevalecem duas. As mulheres andam mais pela cidade, para
levar e buscar os filhos na escola,
fazer compras, resolver problemas de casa -isso porque ainda
não estão tão inseridas no mercado de trabalho como os homens.
Por outro lado, entre os idosos, os
que mais caem, as mulheres são
mais numerosas", afirma Greve.
"Mas é claro que o fato de as mulheres usarem sapatos menos seguros facilita acidentes", diz.
Salto e bengala
"Agora só uso salto se for de
bengala. O negócio é andar de tênis e olhando para o chão", diz
Regiane Godoy. Em 2002, um ano
depois de ter operado o joelho por
causa de um deslocamento na rótula, ela saía do metrô na estação
Sumaré (zona oeste de SP), com
pressa para chegar ao estágio, e
caiu em um buraco da calçada.
Bem em cima do joelho operado.
"Tive de colocar gesso da virilha
até a canela porque ele havia deslocado de novo. O médico disse
que eu teria de voltar a ser operada", conta. Só depois de uma semana de imobilização, 30 sessões
de fisioterapia e muita hidroginástica, a cirurgia foi descartada.
"Minha vontade era pegar a
Marta [Suplicy, prefeita de São
Paulo] e fazer ela percorrer toda a
[calçada da avenida] Paulista
num salto agulha para ver se ela
não ia cair", diz Vanessa de Souza.
Ela também ficou com o pé engessado por um mês por causa de
um desnível no passeio ao lado da
estação Trianon-Masp de metrô.
"O salto ficou preso, e o pé entortou. Minhas colegas no escritório vivem perdendo o salto por
causa dos buracos nas pedras da
calçada", relata. "Além do gasto
para reformar o sapato, tem o
"mico" de cair na rua e passar o
resto do dia mancando", completa Maria Eduarda Silveira, que
também trabalha na Paulista.
Outra vítima das calçadas, Yara
Simões ainda ostenta o "troféu"
da torção que sofreu há uma semana, quando descia do ônibus
para pegar o metrô na região do
Anhangabaú, no centro de São
Paulo: uma tala para imobilizar o
tornozelo. Faltava um pedaço do
piso recém-reformado do local e
foi justamente ali que a estudante
pisou. "Doeu muito na hora. Agora estou à base de antiinflamatórios e compressas geladas."
Um pouco longe do centro, no
Belém (zona leste), Valdezina Pedreira tropeçou duas vezes no
mesmo bloco de concreto que um
dia sustentou uma lixeira. O obstáculo fica no ponto de ônibus do
lado de fora da estação de metrô.
"Pensei em reclamar, meu filho
e minha sobrinha chegaram a
mandar e-mails para a subprefeitura, mas não houve resposta. Os
fiscais e motoristas que ficam no
ponto dizem que, por dia, duas ou
três pessoas caem como eu."
Vítimas de acidentes por causa
das más condições das calçadas
podem entrar na Justiça contra a
prefeitura, mas não é um processo fácil, diz Eduardo José Daros,
presidente da Abraspe. É preciso,
por exemplo, ter testemunhas do
ocorrido e comprovação do dano
causado pela queda.
(MV)
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